domingo, 29 de dezembro de 2013

blue's shocking!

 
2013 - epilogue
"tenho muitos amigos, mas são apenas as paredes do meu quarto que sabem de todos os meus segredos. já as entupi de palavras roxas há muito tempo atrás. e quando a densidão em que me acumulei começou a retrair a luz e a chicotear para fora da janela, eu as tive que mudar. descasquei todo o acúmulo de tristeza e  joguei-os ao vento. antes que eu pudesse perceber, meu quarto amanheceria azul. mas não qualquer tom de azul. as paredes tornaram-se embalsamadas de tristeza e eletricidade, abrindo os olhos de todos que realmente as observassem. quem olhar bem, e chegar a ver o fundo das frases e acompanhar a singela coreografia das linhas (que se acumulavam, cruzando-se e se dissipando no espaço, criando guias e direções impossíveis de serem seguidas), saberá o que eu sou. os mistérios de mim estão todos expostos e visíveis agora. olhe fundo e siga-os até o final mais uma vez."

2014-prologue

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

luper

quando foi que nos tornamos redundantes? os assuntos se repetem conforme o tempo progride e nós nos retraímos em cômodos enquanto faz sol lá fora. essa escassez de mundo me deixou perplexo e ao mesmo tempo com sede de mais. de mais lugares, de antigas vias. abro mão de tudo pelo sentimento estático, nostálgico e renovador que vem acompanhado do pensamento de que estamos no mesmo lugar, contemplando a mesma paisagem tantos anos depois. quero estacionar os segundos e poder ver os reflexos de mim que o cais traz. eu estarei projetado em cada canto e da esquerda para a direita, conforme o tempo passou: maltrapilho, autista, apaixonado, amigo. anseio olhar nos olhos e nas mais diferentes faces da minha insanidade e poder traçar uma linha de raciocínio dando explicações sobre tudo o que aconteceu e me trouxe a este ponto. eu estou com sede de mais uma história e de mais uma marca na grama fria. esta é a única coisa que te peço de natal.

sábado, 21 de dezembro de 2013

high times

I know I wasn't supposed to end up like I did, but then, for some reason the place I'm in now kinda grew into me, leaving no option. it all feels different now, everything is painless, the city lights shine brighter, things feel right. we're like this avalanche of energy, going everywhere and doing everything. this never ending act of moving feels like growth. is this how we feel while the time passes by? I'm not sure where I'm headed to, but I'm going somewhere, for sure.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

haze

eu sempre deixei espaços pra desapontamentos em mim. meu sangue pulsou de inúmeras formas diferentes por entre as minhas veias nesse último mês. eu fui tudo o que eu podia ser, tudo o que eu fui, tudo o que eu gostaria de ter sido algum dia. mas agora, o que resta de mim se dissipa com a era que também finda, com o ano que acaba, com o sol que desce todo fim de tarde mais além. acho que nunca consegui ser tão livre, mas o destino sempre nos toma de volta o que nos entregou de bom grado. eu fui um romântico em algumas tardes, um bêbado em tantas outras noites. fui um modelo, um cara responsável, um pothead, um geek, um doente. redescobri que nada me limita, mas agora estou de mãos atadas e sem direção alguma. eu vou sobreviver. só não sei como ou onde, mas eu sei que sim. 

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

dope

there are no regrets anymore. I guess we've trespassed every kind of barrier that kept us stuck. we've been moving forward non-stop for years now. we get up together, cook together, argue when choosing which songs to play on your stereo. we're like this pair of dysfunctional brothers that can't live without each other anymore. and everytime I stop and think about you, my heart aches from all the love I keep inside. we went from sharing cookies to sharing spliffs on the balcony, we went through days and weeks and so many shit together. but you always made me smile, and I have always tried to do the same to you. you're like my guardian angel. please don't go away. I keep on searching for an answer to this bittersweet feeling, and my whole body shakes with the idea of you going away. please stay. I need you more than dope.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

why

I remember when we used to be the coolest kids in school. we'd light up a cigarette and laugh, taking a few breaks from talking as we stared at each other's eyes. in someways I still feel how perfect you are to me. your soft skin, your huge sunglasses, the way we used to spin around wandering through the streets at night. but now, everything we shared feels like it's been lost forever: the cigarette packs, the cans of beers, the "blue blue sky full of you", the loveliest afternoons, our david bowie obsession. everything got lost in the wind, dissipating as the sound of the lyrics we used to scream while singing on the balcony. everything was simpler back then. and even though we still love each other, there's something in our way - and it kills me not to know exactly what it is. 

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

consumation

me deixei pra trás. talvez eu tenha me perdido em qualquer esquina por qualquer descuido, em algum dia, alguma hora. tudo o que eu sei agora é que nada tenho. além de mãos atadas e atrasos, me fugiu o ânimo de terminar frases. eu corto as palavras pela metade porque sequer tenho vontade de pronunciá-las. tento reaver minhas energias no meu mundo que fecho, contraio, desconfiguro. meus ombros pesam demais. espero que amanhã eu desintegre, olhando pela janela enquanto saio daqui, dali, enquanto não permaneço em qualquer lugar.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

blue is the warmest color

aos poucos eu vejo o meu mundo passado se deteriorando. as cenas escorregam pela minha mente e me abandonam em gotas que escorrem até os meus dedos, findando a memória. seus fins me desintoxicam de todas as cenas erradas e todo o tempo que perdi amando demais, falando demais, estando em todos os lugares errados. edifiquei demais todos os que precisavam de mim e acabei sozinho, aprendendo a não precisar de absolutamente ninguém. cansei de emitir qualquer tipo de palavra ou explicação, porque sinceramente, eu não as devo nem para mim mesmo. e se quando eu deito eu durmo sozinho, talvez a culpa seja minha. mas a calma de uma consciência tranquila eu não troco por nada mais.

domingo, 27 de outubro de 2013

royals

todos nós precisávamos disso. as risadas sem sentido no sofá branco, uma panela de arroz que ficou ligada pra sempre, a sala se transformando na nossa própria constelação. naquele momento tudo era nosso e nós não éramos de ninguém. eu amo vocês.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

blown away

eu alcancei um patamar onde tudo deixou de fazer sentido. remédios me enojam, todas as possibilidades parecem emboscadas - odeio as pessoas que conversam na esquina do prédio quando a noite cai, odeio as formas que minha vida assumiu e todas as pessoas que eu acabo de conhecer. eu odeio isso.
wow, sorry, Dr. Stock.

due order

sometimes sadness strikes me out of nowhere. I'm used to it. I get up and look ahead, carrying that bittersweet feeling on my lips. everyone knows I'm trying to move forward but that's kind of hard when you're being pushed back and forth towards different situations, different feelings, different needs. I'm getting so used to this never-ending cycle my life has become that nothing surprises me anymore. it feels like the element of surprise has been taken away from me and was replaced by skepticism. everyone that I meet is surrounded by this heavy glow, exhaling sickness all over the place. sometimes it feels like I'm tripping but most of the time I can't help but noticing and being completely absorbed into it's darkness.  I try to run away from it. I try to run away from myself. but I can never succeed.

domingo, 6 de outubro de 2013

fucked

there was something about him. something that screwed him over in so many ways. whenever all of us friends got together, I felt like we pushed him aside and made him feel neglected, even if we didn't mean to. maybe it has to do with his education, his circle of friends, his different hometown. it was all so very weird to us. I really couldn't get why outsiders liked him from the moment they met - he was a very loving person, but his flaws didn't make up to his' qualities - and that made me sad. I felt bad for being a witness of such a waste of potential on his side. he was so young, but also so sick and tired of everything. and when I use the word "everything" I really mean it: he wasn't into any kind of physical exercise, organization habits, mathematical thinking, or worries of any kind. he didn't really care about making plans, but he had already stablished his achievements, even though he never moved a finger in order to get them. I guess he thought everything would fall right onto his lap all of the sudden someday or somehow. I didn't really chose to have him in my life, he came as a part of a package that I already had had for many years before. I hated him. but you know me, I hate things in the most loving way I can.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

you're no one until you're talked about

aos poucos eu vou aprendendo que a vida é uma sequência de escolhas. a minha arma ainda fumega do último tiro dado, mas não assumo responsabilidade pelas consequências de uma bala que sequer foi eu quem atirei. por mais chocante que isso possa soar, talvez o que me motive realmente sejam sentimentos de ódio que se sucedem e esquentam meu peito, estremecem meus dedos e me fazem transitar do passado ao presente. eu repenso, recomponho, e volto. uma vez lançado, o efeito surpresa devasta tudo o que tem pela minha frente. e eu sempre fui essa arma de consumação em massa esperando o momento certo de ser lançada. rolem os dados e façam suas apostas. o jogo apenas começou.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

do you love me?

"the image of us both rushing into that car and leaving town for good was the last thing that ever creeped me out. I was scared for leaving but something kept telling me to go with the flow. having you by my side has always brought up this unexplainable side of me. a few hours later and I could barely remember the things we had left behind. I remember you smiling and singing  to the radio as I drove fast. by that time I was pretty sure we would never come back. we've ditched work for 28 days now and we've been flat-hopping in every hotel on the west coast since then. I hope my family is alright, but yeah, they probably are. it all sums up to you now. we're seizing each day so much that I can't remember exactly why we left anymore. it has been so long since then. I guess it was something about finding our path in life. I'm pretty sure we haven't accomplished it yet, but what the hell - if this is what it feels like to be lost, I shall remain like this forever."

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

soul

estou cortando os limites e silenciando todas as tentativas de me fazer repensar. por mais desprezível que possa parecer, eu já consolidei todos os meus mundos e todos os meus modos. mas eu já calejo, cansado demais. meus olhos se perdem na imensidão do vermelho que forra a mesa de sinuca. minhas preocupações alternam no mesmo ritmo em que meus amigos alternam as posições de tacada. meus momentos epifânicos nascem e morrem nos nanosegundos em que as cores se encontram e se espalham pelo plano vermelho-sangue. as cenas hipotéticas pipocam na minha cabeça, mas eu não tenho coragem para persegui-las. e eu chego sempre a mesma conclusão: têm noites em que eu só quero ir embora e largar tudo pra trás.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

glitter freeze

eu fiquei chocado quando me dei conta das palavras que saíram da minha boca. eu me tornei o que eu sou porque eu bem quis, mas eu não tenho certeza ainda de onde quero chegar, ou com quem quero estar (isto é, se eu realmente vir a querer estar com alguém). eu não sei, eu me garanto melhor assim, melhor sozinho. mas há algo nas noites frescas que as tornam um completo pesadelo. algo que se esconde na complexidade do incerto, do não-descoberto - tão agridoce como as horas que passam sem que eu tenha me dado conta. tudo é reversível, mas eu tenho essa estranha sensação de que a cada dia que passa eu vou me voltando mais pra dentro de mim. talvez eu já esteja cansado de perder. agora já não faz mais diferença alguma. qualquer justificativa me parece vaga demais. 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

save charlie!

"estas histórinhas estão me dando asco. desde quando ninguém tem forças o bastante pra se libertar do que te consome, te priva e te faz ser qualquer pessoa menos você mesmo? talvez eu esteja errado. algo deve ter te reduzido a este pedacinho de pessoa medíocre que você se tornou e você parece estar ótima assim. amarra tua vida a este destino insólito e eu não sou mais ninguém. agora já é tarde - já me acostumei com os retalhos que fiz das nossas memórias. espero que você parta em paz. e de você eu só quero meu livro de volta. de resto, passar bem."

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

the roots

"eles tiveram um desfecho chocante. enquanto todos os outros tinham uma linha de raciocínio definida, os dois além de terem deixado todas as histórias em aberto chegaram à lugares que eu nunca pude imaginar que eles chegassem. e eu não digo isso no sentido de os vangloriar, muito pelo contrário: enquanto um apodrece com um coração de pedra preso em escritórios, o outro vira um artista quarentão frustrado em seus plenos vinte e poucos anos. tornaram-se lamentáveis. o meio-tempo entre onde os deixamos e onde eles estão agora ficou recheado de destinos improváveis: uma viagem ao Tibet, porta-retratos em formato de coração, drogas, rotinas, paisagens fantásticas e um relacionamento selado não pelo amor, mas sim pelo comodismo. quando o mundo dos dois volta a se chocar, toda a podridão começa a se deteriorar e dar espaço à inevitável incerteza que acompanha a revolução. fiquei sem saber o que aconteceu de novo. mas os vi pela última vez partindo em meio á nebulosidade de um domingo, nove da manhã. eles estavam de óculos escuros e o tempo estava horrível. ligaram o rádio, o piloto acendeu um cigarro e acelerou."
excerpt from scene kids.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

white flag

estou findando o nossos pequenos diálogos à noite. eles já não fazem sentido algum, como nós nunca fizemos. vai me levar um tempo pra me acostumar com a ideia de que todas as palavras que sussurrei foram perda de tempo - criações estúpidas que minha mente arranja pra tapar algo que falta. eu me escondi dessa cratera forrando-a de mentiras por tempo demais. estou tentando acordar de um sono onde eu tinha todos os cenários montados, falas feitas, histórias premeditadas. sinto que não perdi tempo. eu apenas fiz o que eu tinha de fazer. eu sempre faço o que eu tenho que fazer.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

cut!

"each one of us had our own troubles. we'd sit and talk for hours in front of the tv, listening to some new dope shit album - mostly jay-z's - because the beat always fitted perfectly through our moments. I think that, for each one of us, those hours we used to spend together made us feel totally disconnected from the outside world. we weren't really adults, so we felt special for having a whole apartment just for us. there was something in the dirt and the mess we lived in that made us feel like home. it was kind of liberating never having to straight things out around the house, but you'd always trip and break a glass that was lying peacefully on some random part of the wood floor as you woke up at night to take a piss - it took me some time to get used to the idea that going back to sleep was always the right thing to do. guns were always firing up at four a.m. as the guys played call of duty with the tv volume at it's loudest frequency. the neighbors complained at first, but I guess they gave up on us and got used with our messy way of life. we'd rarely cook, but for me, it didn't really matter - I had already created the habit of smoking to make the hunger go away. Gabriel would eat all the food in the house, so I have to confess that sometimes we didn't have much to eat because of his greediness. but we always had cigarettes. I remember that our lives were pretty different at the time: Felipe had just come back from the U.S., while I was starting at this new shitty job. Gabriel was always mesmerized with São Paulo, even though he'd been living here for a while and Gabri was always tired from studying to get into uni - but when we decided to heat things up, he would never let us down. as for me, taking a look-back into our 'apartment days', I have to say I was pretty obnoxious. I was in a terrible mood sometimes, but even if I felt like killing one of them, I had two other ones who would always find a way to make me forget about sad or stressful things.  and of course, I had my share of good moods as well. Felipe, Gabriel and I would never hesitate in having a smoke at the balcony together. even if it was freezing cold, we'd put our jackets on, open the window and light up a cigarette while watching funny videos, or simply taking a look-over the other buildings and it's surroundings and gazing into the dark. I don't really know how to define the four of us back in the day. we were everything and once: dope, childish, poetical, fun. perhaps there are no right words to describe us all at once. we were this exquisite kind of group, four guys so different from each other. no word could sum us up. we were invincible."

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

venus

estamos dando os passos decisivos. rodopiamos na ponta de plataformas, atravessamos pontes frias, batemos feijão no liquidificador e ouvimos Frank Ocean. e eu não preciso de nada mais.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

I could change

existem certos lugares em que minha imaginação insiste em se aproximar. são músicas que tocam em carros enquanto eu acendo um cigarro e deixo tudo pra trás. são manhãs em que ficamos sozinhos em casa e o sol invade o quarto pelas pequenas ranhuras da janela fechada. eu gosto de quando você parte, porque eu sei que você vai voltar. o que me incomoda é estar em tantos lugares ao mesmo tempo, e não conseguir nunca alcançar o chão. existem um milhão de coisas que eu poderia ter feito e não fiz. tudo vira uma questão do que poderia ter sido: você, os lugares, os arrepios que correm pela minha pele poderiam ter vindo de qualquer outro lugar. talvez agora eu já poderia ter tido o suficiente. mas a cada devaneio, o suficiente me parece mais longe de chegar.

domingo, 11 de agosto de 2013

troubled terms

maybe someday we could head up to new york, leaving everything behind us. our jobs, our friends, our family: they would all be reduced to sweet memories as we digested the idea of our sudden and unexpected escape, overlooking the ocean. truth is, in the end, none of us became the kind of people we wanted to be. the world, though as it is, made us give up on our dreams before we could even start to live 'em, or even plan them - we were left behind with empty hands, not even knowing what was it that we wanted in the first place. we've started taking ourselves for granted. each one of our fingers were colder than some regular july kind of weather. this city has made us freeze within ourselves, and after all, there was nothing we could have done before that could have changed things. I sure wouldn't have been that polite to everyone in the past if I had known back then that it wouldn't take me anywhere. I'm leaving, you guys. but before I do go, you should all know that I've tried. I'm flying somewhere where I can feel great again. and I wanna feel great tonight. 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

trying times

as noites ficam mais quentes quando no acumulamos no sofá, disputando lugares, alternando copos, controles, conversas. eu amo o que somos porque isto é tudo que eu tenho agora. faço um emaranhado de nós e mergulho sem pensar. exalo fumaça exausto na varanda quando a noite cai e adormeço, completamente adormecido. os sinais alternam nos faróis de todas as esquinas conforme o passar das horas, mas eu, de alguma maneira, permaneço intocado. o meu mundo, com vocês, me protege de todo o resto. e conforme a porta se fecha e eu entro, todas as veias do meu corpo relutam ao meu pensar de que nada é para sempre. talvez nada seja mesmo. mas nós, o presente, o que temos agora - já é o suficiente em mim.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

mistaken

eu te amei por tempo demais. te amei na relva do cais, enquanto a chuva molhava nossos ombros, te amei em corredores lotados quando tentei te tirar de mim. nós gostamos por tanto tempo dos mesmos elevadores silenciosos, precedidos por varandas reflexivas. você me deixava errar e eu te dava o mesmo direito. deslizamos para rotas distintas nas estradas que insistimos tornar escorregadias demais, e todas as vezes em que você volta, minha mão se desprende de alguma forma inevitável da sua, e eu deixo partir, desprendo o último dedo, a última história. tento me lembrar das últimas palavras, mas mal consigo montar a cena. minha mente deteriora em decepção segundos depois, e vai queimando as bordas de onde a gente começou. falamos línguas diferentes, longe um do outro, até alguém resolver voltar. e eu já desisti de todas as outras opções. eu espero, e espero, espero mais. mas sem esperança alguma. talvez o acaso nos reúna novamente, enquanto você estiver vagando pela rua, debaixo de um céu que anuncia a chuva. entrego todas as minhas cartas ao destino. e não peço a ele nada mais.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

temporary touch

seus olhos vagam os corredores verdes da maneira mais singela possível, você os fecha, traga teu cigarro, e olha pra mim, gargalhando. eu sempre tive uma certa facilidade em me perder em oceanos que são azuis demais, e quando eu te vi, eu sabia que era ali onde eu devia estar. dividindo sofás, cortando o vento que nos rasga pelo portão. nós nos tornamos versões mais leves de nós mesmos, e o que eu sinto ou deixo de sentir não faz diferença alguma. paira no ar e se perde fácil por entre as nuvens, deixando as pontas dos meus dedos congeladas, um leve suspiro, e nada mais.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

rhinestones

são engraçadas as reviravoltas da vida que se revelam a cada passo que dou. elas se apresentam, ridículas, e se desenrolam sem fundamento algum. eu começo a rir de tudo, e o mundo começa a me parecer patético. as coisas passam a se configurarem como inúteis - desde as duas bolsas de dramin até o sorriso amarelo que tenta me cativar com pequenas mentiras todas as manhãs. eu não nasci pra ser idiota. as coisas não me descem simplesmente por serem o que são, por irem e virem, por serem dez e não vinte. por trás de tudo há uma mínima explicação. perdi a conta de quantas vezes tive que esbarrar com o cinismo e a ignorância ao tentar esboçar o princípio das coisas nesses últimos dois dias. quanto mais conheço as pessoas, mais cresce em mim a vontade de ficar no meu quarto. mas já que não me resta essa opção, me sobra apenas o jogo que faço: saio rindo, de manhã até a noite, pra me pacificar e me proteger de tudo o que tenta me derrubar. a risada acaba servindo também, como a expressão máxima da pena em que sinto pelas pessoas que tentam ditar as regras da vida da mesma forma em que elas mesmas se apresentam: sem sentido, desprezíveis e totalmente lesas. 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

win

eu alterno, como sempre fiz. mas dessa vez, pretendo chegar em algum lugar comum. me sinto um completo otário quando meus esforços não me trazem o que eu quero. reino a noite, quando o vento frio agita o pano dos meus shorts enquanto mato aula pra dar risada. me sinto em casa quando compartilho um sofá com dois grandes amigos, e me pacifico, limpando todo o caos antes de desligar pela manhã, quando finjo que não sou eu que atendendo o telefone. eu tive tempo de decidir tudo o que eu não quero ser. não quero ser mais nenhuma espécie de destruidor, de intelectual incorrigível. não quero ser neurótico e tampouco quero ser uma máquina auto-destrutiva. estou abrindo mão do castelo de areia que construí pra me encontrar em qualquer esquina, olhando para o alto e sabendo exatamente o que fiz, o que farei, e para onde vou. todos nós temos sonhos. talvez o meu seja me firmar em mim mesmo, atando nós com a mais absoluta certeza de que estou me tornando quem sou.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

super collider

nossa noite findou com um balão que ascendeu ao céu. com alguém que parte. com o vento na varanda, deixando de fundo meia hora de palavras trocadas num quarto escuro. nossos olhos cediam em frente á televisão, mais uma vez. somos um conjunto de repetições e ocasionais surpresas.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

sad dreams

você invadiu meus sonhos na noite passada. lembro de você contemplando o chão, olhando pra baixo, sem dizer sequer uma palavra. qualquer reminiscência de nós me remete diretamente à você, a quem você é agora, em como você está, e ao que você anda fazendo. sinto o gosto agridoce do que fomos nos meus lábios quando as cenas voltam a correr na minha mente, e se alongam, indo e voltando no passado e no presente. nós somos esse ninho de contradições: fomos feitos um para o outro na mesma medida em que não fomos, nossos toques se eletrificavam e tornavam-se suaves ao mesmo tempo. fomos a lua que domava nossas próprias marés, deixando as ondas enfurecidas ao fim de todas as noites. me pergunto o que aconteceu para que o mar esteja tão tranquilo agora. a calmaria desse nosso oceano me incomoda e me alivia, e é justamente nesta indecisão que nos encontro novamente, nos repelindo e nos aproximando como os dois ímãs indecisos que somos. é esse vai-e-vem que me impede de partir, até porque, nem eu e nem você sabemos o que o amanhã nos reserva. e que caiam nossas cambaleantes pontes que nos ligam um ao outro, para que eu possa morrer em nós, finalmente em paz, cercado por um milhão de grãos de areia e sequer uma imagem de você.

baddest bitch

por vezes, minha carne queima como a de todo mundo queima. mergulho de cabeça sem olhar pra trás, e a partir dali, minha mente apaga e meu corpo faz todo o trabalho de ação e reação. eu também gosto das coisas cruas. gosto do pensamento que se erradica e dá espaço pra que os pulmões ofeguem e a pele derreta em si mesma. por vezes eu canso de ser totalmente racional e esqueço que existem certas alternativas. os atos impulsivos sempre foram meus grandes aliados. e os carrego comigo, pelo menos por agora.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

how are you?

tudo me cai como uma luva. os lugares que frequento são perto demais, tenho pausas consideráveis entre um compromisso e outro, tenho certas autonomias que eu não tinha anos atrás. mas, quando eu deito a cabeça no travesseiro, parece que algo me falta. ardem as bordas do buraco que existe em meu peito e eu simplesmente não funciono mais. as coisas que eu condeno por simplesmente existirem correm soltas mundo afora, e eu, eu  vou continuar agonizando antes de dormir. eu sei que eu não posso mudar o mundo. mas eu não quero que ele me mude também.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

bites

"tive que parar o formigamento nas minhas mãos em questão de segundos e olhar firmemente dentro dos seus olhos. era como se tudo em volta de nós houvesse sumido, silenciado. seu peito estufava cada vez mais e eu me senti à beira do colapso. segurei firme em mim mesmo e procurei a mais calma feição que eu poderia expressar. eu sabia que nós todos tínhamos tudo a perder. e justamente quando os meus piores pesadelos começavam a se materializar na garagem, nós já estávamos longe demais dali. derreti as minhas últimas gotas da minha adrenalina quando aquietei, sentado na calçada da nossa padaria. ri respondendo aos seus risos. nós sabíamos que tudo findava naquele momento. espero que pra você, esta tenha sido a última prova de que algumas coisas devem ficar pra trás. e eu fico feliz por ter estado ali contigo, empunhando os meus mais pesados escudos, como você sempre fez por mim."

sexta-feira, 7 de junho de 2013

yeah, maybe

anos depois, o mesmo sonho se dissipava na mesma sala em que o primeiro se concretizou. o cenário pouco mudou, mas eu já sabia para aonde os passos que eu daria a partir dali me levariam. eu já conhecia todas as paisagens que iria voltar a enfrentar. já sabia descrever com a palma da minha mão todas as rotas: ruas, avenidas, travessas, destinos. e por mais excitante que seja a mudança definitiva, a vida fica um pouco sem graça quando já se tem uma leve ideia de onde ela irá te levar. a falta do elemento surpresa inibe todas as expectativas e anseios e dá lugar à um novo sentimento de desânimo por apenas estar cumprindo a sua obrigação ao recomeçar. meus velhos hábitos voltam tomando conta de todo o ambiente. sento errado porque me convém sentar assim e se eu cruzo os braços ou não, quem sabe isso não é um problema meu. não quero que ninguém dite as regras de um jogo que dominei por tanto tempo. não me faço mais rei de nada já que o meu momento já passou, mas eu sei como as coisas funcionam, e até a presente data, nada me interessa além de cumprir única e exclusivamente o meu papel. seja de braços cruzados ou não. esse é o meu mal-educado "bléh" pra tudo aquilo que não me cabe mais.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

terminals

seus olhos se encontraram com os meus ao vislumbrarmos de longe as sacadas espelhadas com vidros azuis. ainda lembro do cheiro de carpete e de manchas de vinho no chão. a simplicidade das noites que caiam fáceis contrasta agora com o barulho da arma que estrala ao se preparar para atirar. nossos antigos cenários se despedaçam na minha mente como fotos que pegam fogo rápido demais: as imagens derretem e se contraem, e por mais que elas lutem contra a chama que se alastra, acabam perdendo a luta e dando lugar ao mais insignificante dos vazios. as ameaças se aproximam conforme os cômodos começam a cheirar a pavios que queimam. e eu sei que não restará outra alternativa a não ser fincar meus dedos contra a pele e te entregar tudo o que resta das minhas veias. por enquanto, me pego preso a nós atravessando ruas nojentas enquanto agonizo em silêncio no banco detrás. e dentro da minha cabeça, ao virar os olhos, sussurro devagar para o sol que se põe trazer na manhã seguinte todas as conclusões que eu simplesmente não pude te dizer. 

terça-feira, 28 de maio de 2013

down the drain

estou há dias tentando achar um fim conciso para as nossas histórias. perco o sono ao tentar procurar pontos finais. o céu me deslumbra com infinitas possibilidades quando a noite cai. mesmo estando tão longe, ainda tento achar uma lógica que interligue as mais belas estrelas - tão desconexas. estou com sede do fim. todos os meus passos para frente parecem não ter sentido, uma vez que inúmeras feridas abertas há tanto tempo repousam logo atrás de mim. estou me desligando pouco a pouco do que não me faz mais bem. e quando não consigo por si só, retiro todo o sentido do que me machuca e deixo o fim à relva, para que o destino possa cuidar. algumas coisas simplesmente não me cabem mais. mas isso não implica necessariamente que, de vez em quando, ao olhar pra cima, eu não imagine para onde todas aquelas partes foram depois que resolvi deixá-las para trás.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

an ambulance sped

lanternas apontavam pros meus olhos no sonho de ontem a noite. eu não consegui ver quem ou o que. sequer consegui me situar. flutuei desprendido de qualquer senso enquanto me sentia totalmente encurralado pelas luzes que vinham de todos os lados e tremiam ao me encontrar.  me perdi na escuridão mais uma vez e me vi deitado na plataforma do metrô quando finalmente abri os olhos. você vinha de encontro a mim despejando todo tipo de mágoa acumulada por tanto tempo. eu te abracei forte demais e deixei tudo o que me atormentava pra trás. tudo parecia como se fosse da primeira vez. tudo tão lindo, como a primeira vez, toda de novo. 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

is this it

nasci e morri nas palavras que aqui deixei. fiz de mim meu melhor amigo e pior inimigo. permaneci à espreita do desenrolar dos fatos enquanto a noite me acariciava lentamente com o passar assustadoramente rápido de seus minutos. tudo aqui sempre teve uma natureza dual, uma essência que transparece misteriosa, enquanto seu plano de fundo foi o tempo todo totalmente perturbador. aqui estou, após ter nadado por mares turbulentos e caminhado lentamente por estradas de tijolos amarelos. estou a beira do fim. já posso ouvir a chuva que antecede a partida, o desfecho, o último adeus ao mundo que aqui criei. abraço minhas palavras uma a uma. me despeço, relutante, das minhas fases, paranóias, obsessões, romances. estremeço ao lembrar de todas as vezes em que fervi de ódio e derreti. faço desses parágrafos uma recordação póstuma de tudo o que documentei aqui. e talvez, quem sabe, alguns dias eles não passem a ser um mero prelúdio a um novo livro, uma nova página, uma nova era. obrigado ao blog, e aos poucos que leram e se importaram com o que eu tinha a dizer. eu vou em paz. vejo vocês por aí. até mais.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

our skin is ash

morremos cada qual ao seu léu. o sangue que pingou de nossas veias por tantas ruas agora corre preso à salas, escritórios, quartos escuros, estações de trem. nossas garrafas estão vazias há muito tempo. talvez eu tenha entendido tudo errado, mas de alguma maneira, algo existiu. uma geração, ouso dizer. e eu fui parte da turma que ressurgiu e recriou toda a decadência que é ser jovem e imbecil. e foi tudo justamente da forma que deveria ter sido então. sem nenhum traço a mais ou a menos. e desde então, a vida nunca mais parou para ninguém.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

glamorous indie rock and roll

"meus lábios se fecharam e o que me restou foi apenas o gosto agridoce das manhãs em que mundos colidiram contra o meu. me restaram muito mais do que memórias dos intervalos em que as pessoas atropelavam as palavras por terem muito o que dizer. me restaram amigos que falam alto no metrô, que te esperam do lado de fora pra dividir um cigarro, que se preocupam, que te recebem de braços abertos. ganhei amigos que riem juntos dos pensamentos mais escuros por no fundo, pensarem todos da mesma forma. ganhei amigos que te trazem lanche de manhã, que correm pelas escadas das estações, que não estão nem aí pro lugar de onde você veio, para a roupa que você usa, ou para o que você tem ou não a falar. ganhei amigos que se importam em me ter perto. tive a sorte de achar essas pequenas joias em um lugar tão longe de casa."

terça-feira, 16 de abril de 2013

collider

acabei ouvindo o sino que anunciava as sete horas da manhã enquanto sentava numa mesa fria. eu nunca havia me imaginado em nenhum dos lugares que recentemente consegui chegar. tudo pra mim tem cheiro de novo, de desconhecido, de desafiador. tudo o que me encara me faz transbordar em partes de mim que eu até então nunca havia notado a existência. comecei a pertencer às manhãs congelantes, aos terminais de trem, às salas lotadas e aos refeitórios pintados de vermelho e amarelo. guardo o meu nervosismo no fundo e ergo a cabeça. abraço e agarro de mão cheia todas as novidades. depois de quatro longos meses, meu mundo finalmente volta a girar. e não podia ter sido de nenhuma maneira melhor que esta.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

reboot

pereci palavras ao amanhecer enquanto tentava ensaiar cenas. programar céus que girem devagar. me policio pra que eu não peça demais, mas ainda sim, as coisas me dão as costas. me desatam. desapegam. sangro indiferente, de pulsos abertos no meio-fio. não estou pedindo socorro. me reservo apenas o direito de chorar as últimas lágrimas mais uma vez, ao assistir tudo o que mais me importava partir. mentiram pra mim esse tempo todo. vigio a xícara de café esfriar de manhã, estacionada no canto da mesa. tudo me escorrega pelos dedos. cansei de me sentir um cachorro. cansei de acordar de mãos vazias.

sexta-feira, 29 de março de 2013

contagious

no final, tudo dá certo. começou a fazer frio enquanto nós trocávamos palavras e eu emendava um cigarro que findava acendendo um outro, me perdendo devagar no que você falava, sempre querendo estar mais perto. peguei a primeira blusa que vi na minha frente e vesti. o lugar começou a encher rápido demais e você sequer se movia. algo te manteve estática - não sei dizer se nosso sincronismo foi o responsável pela completa falta de reação. o sol já desaparecia por detrás dos prédios e seus olhos brilhavam, indo do menor brilho enquanto você se lamentava, ao maior enquanto você se empolgava e mergulhava de cabeça no que acontecia, em quem chegava, em quem passava e no que eu dizia, ainda que fosse bobo demais. mesmo que não estivéssemos estado ali, penso que em qualquer outra circunstância, eu não precisaria de nada mais. tudo que partia de você sempre pousou nos meus ombros da maneira mais singela e carinhosa possível. e pra mim, nem o brilho no seus olhos, nem a espontaneidade do seu sorriso me pareciam ter envelhecido ou se desgastado nenhum ano a mais. 

quinta-feira, 28 de março de 2013

jerks

nossas reuniões já me eram muito estranhas. passaram de um casamento em terras paranaenses á festas de crianças nas quais bebi demais por me sentir terrivelmente desconfortável. nós não éramos e nunca fomos sequer amigos. reclinei no banco de madeira debaixo de garoa, enquanto os três conversavam sobre assuntos totalmente supérfluos. meu primo mais novo me olhava de lado desaprovando o que o irmão dele insistia em discursar. o outro, ouvia e concordava cegamente com o discurso do fanfarrão que enrolava a língua enquanto falava sobre aminoácidos, tentando injetar doses de sabedoria falsa ao assunto. nós quatro nos tornamos pessoas totalmente diferentes uns dos outros. nos tornamos protótipos de pessoas facilmente diferenciáveis e identificáveis. tomamos rumos diferentes e propusemos prioridades descompassadas às nossas vidas. nós quatro seguimos sonhos cegamente por vias desiguais. me esforcei ao máximo pra não soltar a pitada de rancor presa à minha garganta enquanto falava. família não se escolhe. e por mais que nos desgostemos uns dos outros, sentamos no mesmo banco e dividimos as mesmas horas. da esquerda pra direita: um culto, um adolescente, um revoltado-pop e um aspirante á bodybuilder. interrompi os discursos irritantes e introduzi assuntos menos distantes de mim. mesmo assim, os pingos de chuva caindo sob os meus ombros e as rodadas de pizza que iam e vinham me interessavam muito mais.

sexta-feira, 22 de março de 2013

words

as palavras se ausentaram quando eu aquietei na varanda. deixei o mundo de lado e me foquei em toda a falta que eu sinto. em todos os meus mundos que um dia chegaram a ser banhados em tinta rosa. me foquei em pensar no quanto eles estão distantes na memória e tão presentes em todas as decisões que faço. tudo agora parece fazer sentido. e tudo o que ficou e aconteceu entre o abandono de nosso mundo cor-de-rosa e agora me parece um total desperdício de tempo. nada apaga o quanto você faz parte de mim. e eu sempre te disse que nos sempre fomos, sempre somos e sempre seremos nós. e nunca, em hipótese alguma, eu neguei isso.

quinta-feira, 21 de março de 2013

softer cell

por vezes me pego preso entre alternativas sem ao certo saber o que fazer. minha preocupação está jazendo nas coisas que se contradizem: por mais que as novas oportunidades estejam brotando tímidas demais, o céu do meu mundo alterna suas cores e períodos de uma forma assustadoramente rápida. esse descompasso atinge o meu nervo mais profundo. mesmo que eu já não acredite em sinais, minha intuição está rasgando a flor da minha pele, mal podendo esperar a hora de me corromper e inundar tudo o que penso, vejo, toco, falo. a única coisa que me impede de ceder à ela é que os resultados da sua última libertação foram catastróficos demais - me prenderam na cama por dias enquanto eu tentava me recompor, totalmente perplexo, olhando fixamente para o teto por horas a fio. construí um palácio de plástico. não quero olhar pra o que se passa lá fora. pelo menos não nitidamente, até quando eu decidir sair e lidar com seja lá o que tiver se impregnado às minhas paredes. por enquanto, o melhor que posso fazer é arranjar desculpas que me impeçam de ceder. o tempo frio machuca meus quadris. não tenho guarda-chuvas. esqueci de fazer a cópia das chaves de casa. dormi demais. estou com preguiça. estou sem dinheiro. estou com medo. estou com medo de estar certo. estou com medo de estar errado. estou com medo de voltar. eu ainda não estou pronto pra ir.

terça-feira, 19 de março de 2013

is this real

fechei a janela porque fazia frio demais. o quarto escureceu imediatamente enquanto eu manquei de volta pra cama, ainda perdido nas frases que consegui dizer sem pestanejar. por mais que tudo entre nós tenha sido vagamente concluído, eu ainda me sinto preso à aqueles pormenores que sempre nos foram tão significativos. eu sinto o peso dos dias errados assentando no meu ombro durante todas as vezes que tento erguer a cabeça e marchar para frente. meus dedos não estão mais congelados como da última vez, mas as mesmas músicas que os petrificaram com o frio voltam a tocar, começando e terminando religiosamente da mesma forma em que se alternavam. eu já não consigo mais atribuir significados metafísicos a essas coincidências. já sou cético demais para sequer começar a acreditar que elas estejam conspirando para me mostrar algo que não vi. estou completamente consciente do fato de que muito do que aconteceu pode ter escorrido pelos meus dedos sem que eu percebesse, porém, agora, anulo o benefício da dúvida ao assentar em respostas curtas quando me pergunto qual a diferença que isso faz. nenhuma. o cenário inteiro mudou. as paredes do meu quarto já estão pintadas de outra cor, os canos do cais não existem mais e por mais que eu tente me agarrar à alguma lembrança forçando o acontecimento de certos eventos, a minha janela não transpira mais pela manhã. é exaustivo demais permanecer sólido, vivo e respirando quando fantasmas fantasiados de memórias cercam as suas decisões mais corriqueiras e te fazem hesitar. eu acabo os atropelando no caminho, mas isso não os impede de forma alguma de voltar. e quando menos se espera, eles voltam. e eu os recebo com o mesmo carinho de quem reencontra um velho amigo. chego a entortar o canto da boca e ensaiar um sorriso ao notar o regresso dessas neblinas compostas por tantas palavras e por tantos momentos. eu acho que essa talvez seja a verdadeira tradução da solidão - se sentir tão bem em estar tão mal, e estar tão mal por se sentir bem demais. 

sexta-feira, 15 de março de 2013

white fields

me sentei na última cadeira e tentei assistir o mundo rodar. mal consegui me lembrar da última vez que parei no tempo. estacionei a visão e deixei os movimentos assumirem-se em borrões que pintavam as cenas de cores que me eram estranhas demais. os cheiros, nauseantes, se misturavam com as palavras que ecoavam e atropelavam-se até se chocarem na parede mais próxima. as frases me soavam sobrepostas e ensaiadas, quando não, ininteligíveis. mergulhei na falta de noção, e fiz da minha percepção do tempo e do espaço uma morada sombria da perdição e do desapego de todos os sentidos. o cômodo me parecia mais profundo e distante, tornando-se cada vez mais frio conforme o tiquetaquear das horas. um sorriso emergiu da neblina de mistério que pairava sobre a mesa da cozinha, me arrastando pra fora daquela aglomeração de mim. em questão de segundos, tudo começou a derreter: as faces, já nítidas mais uma vez, desfiguravam-se conforme minha visão oscilava para frente e para trás, sendo puxada e empurrada na beirada da sacada. me lembro de apertar minhas pernas contra os meus braços num abraço desesperador no canto escuro de um carro que eu mal sabia para onde ia me levar. as luzes pintavam e escureciam minha pele conforme a presença e o cessar dos faróis. e talvez, quem sabe, meu maior erro possa ter sido fechar os olhos forte demais. 

quarta-feira, 13 de março de 2013

who can it be now?

sketch:
"me agarrei aos últimos suspiros enquanto esperava o ônibus. a noite começava a cair quando eu olhava o mundo pela janela, perplexo. eu já não sabia o que dizer, mesmo depois de ter passado todo esse tempo ajustando minhas respostas à mil e uma maneiras. tudo em mim silenciou. derreti minhas últimas reclamações no balcão da padaria e fiquei parado ali, esperando poucas respostas. de alguma forma, aquelas horas me fizeram feliz. me larguei aos pedaços na volta pra casa, contando os minutos pra minha vida mudar."

domingo, 10 de março de 2013

crash

tenho alinhado meus dias em órbitas que giram em tornos de pequenas conclusões. a realidade não marca hora e nem dia pra me encontrar. seus gatilhos foram puxados nos momentos mais inoportunos, alternando entre conversas desconfortáveis na cozinha e em longas caminhadas em direção ao terminal rodoviário. a chuva voltara a me queimar depois de tanto tempo desde a última vez. as situações voltaram a se desviar das minhas previsões. eu já posso sentir a dor dos hematomas quando a noite cai, justamente como da última vez. a sacada voltou a ser minha morada e minha válvula de escape. já não suporto festas, reuniões, salas de estar. não consigo mais sustentar imagens ou seguir projeções. as cenas que eu costumava montar na minha cabeça perderam a cor e vão noite após noite perdendo a nitidez. estou levando socos muito mais fortes do que eu costumava suportar. desvio o olhar rápido demais da caixa em que guardo meus antigos remédios. eu não quero voltar a dopar minhas percepções e a amenizar covardemente minha suposta invulnerabilidade ao ter que baixar a guarda. eu quero voltar a guerrilhar pelo que é meu, usando nada além do que sou. mas algo me diz que já é tarde demais pra voltar para o campo de batalha. tracei uma linha que implicou na criação de uma distância metafísica entre o que sou e como estou. já posso sentir o cheiro dos meus mecanismos sendo queimados há quilômetros de distância de onde estou. já me sinto nulo mais uma vez. já não sei quem sou, uma vez mais.