fechei a janela porque fazia frio demais. o quarto escureceu imediatamente enquanto eu manquei de volta pra cama, ainda perdido nas frases que consegui dizer sem pestanejar. por mais que tudo entre nós tenha sido vagamente concluído, eu ainda me sinto preso à aqueles pormenores que sempre nos foram tão significativos. eu sinto o peso dos dias errados assentando no meu ombro durante todas as vezes que tento erguer a cabeça e marchar para frente. meus dedos não estão mais congelados como da última vez, mas as mesmas músicas que os petrificaram com o frio voltam a tocar, começando e terminando religiosamente da mesma forma em que se alternavam. eu já não consigo mais atribuir significados metafísicos a essas coincidências. já sou cético demais para sequer começar a acreditar que elas estejam conspirando para me mostrar algo que não vi. estou completamente consciente do fato de que muito do que aconteceu pode ter escorrido pelos meus dedos sem que eu percebesse, porém, agora, anulo o benefício da dúvida ao assentar em respostas curtas quando me pergunto qual a diferença que isso faz. nenhuma. o cenário inteiro mudou. as paredes do meu quarto já estão pintadas de outra cor, os canos do cais não existem mais e por mais que eu tente me agarrar à alguma lembrança forçando o acontecimento de certos eventos, a minha janela não transpira mais pela manhã. é exaustivo demais permanecer sólido, vivo e respirando quando fantasmas fantasiados de memórias cercam as suas decisões mais corriqueiras e te fazem hesitar. eu acabo os atropelando no caminho, mas isso não os impede de forma alguma de voltar. e quando menos se espera, eles voltam. e eu os recebo com o mesmo carinho de quem reencontra um velho amigo. chego a entortar o canto da boca e ensaiar um sorriso ao notar o regresso dessas neblinas compostas por tantas palavras e por tantos momentos. eu acho que essa talvez seja a verdadeira tradução da solidão - se sentir tão bem em estar tão mal, e estar tão mal por se sentir bem demais.
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