sexta-feira, 15 de março de 2013

white fields

me sentei na última cadeira e tentei assistir o mundo rodar. mal consegui me lembrar da última vez que parei no tempo. estacionei a visão e deixei os movimentos assumirem-se em borrões que pintavam as cenas de cores que me eram estranhas demais. os cheiros, nauseantes, se misturavam com as palavras que ecoavam e atropelavam-se até se chocarem na parede mais próxima. as frases me soavam sobrepostas e ensaiadas, quando não, ininteligíveis. mergulhei na falta de noção, e fiz da minha percepção do tempo e do espaço uma morada sombria da perdição e do desapego de todos os sentidos. o cômodo me parecia mais profundo e distante, tornando-se cada vez mais frio conforme o tiquetaquear das horas. um sorriso emergiu da neblina de mistério que pairava sobre a mesa da cozinha, me arrastando pra fora daquela aglomeração de mim. em questão de segundos, tudo começou a derreter: as faces, já nítidas mais uma vez, desfiguravam-se conforme minha visão oscilava para frente e para trás, sendo puxada e empurrada na beirada da sacada. me lembro de apertar minhas pernas contra os meus braços num abraço desesperador no canto escuro de um carro que eu mal sabia para onde ia me levar. as luzes pintavam e escureciam minha pele conforme a presença e o cessar dos faróis. e talvez, quem sabe, meu maior erro possa ter sido fechar os olhos forte demais. 

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