segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

insulin

o que me restaram foram peças. o ano todo resolveu quebrar nas minhas mãos logo agora e possuo apenas os restos aos quais estou atado - em sua maioria lembranças ou vontades vagas, porém poderosas. as balas me atingiram através de pequenas coincidências e acontecimentos inoportunos. minha cama está cheia de sangue e eu simplesmente não consigo levantar. não quero olhar pra trás. não quero olhar pra fora. na verdade, não quero olhar pra lugar algum. sinto que meus braços tornaram-se pedras e talvez essa estranha mutação esteja se espalhando pelo que resta de mim. eu não tenho nenhum agente facilitador pra me levar a qualquer coisa que almejo, e a pouca base que tenho se ausenta da culpa caso tudo volte a dar errado. e vivo assim, sentindo que a realidade gira em círculos ridículos onde o sentido das coisas vai sempre para o pior.  meus dentes machucam e minha raiva me faz pensar que por vezes seria uma alternativa viável explodir. e que eu exploda com os fogos que anunciam 2013 - pra talvez começar o ano livre da pessoa que eu costumava ser. 

domingo, 30 de dezembro de 2012

videotapes

as músicas voltam do começo enquanto eu danço acompanhado da miséria na varanda fria. as imagens de todos os anos passam pela minha mente rápido demais e cedo sem pestanejar. eu sei que tudo o que passou vai fazer falta. mas eu não quero que nada do que passou passe mais. nunca mais.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

stripes

quando a manhã colore o meu quarto irradiando pela janela entreaberta, minha mente se revira para o lado contrário, e descansa em seus ombros, reavalia a cor dos seus olhos e meus dedos percorrem os seus braços, explorando-os devagar. meu coração pausa o fluxo que os sonhos despertam e mesmo dormindo eu suspiro profundamente quando todo o processo termina. te tirei pra fora dos meus sonhos só pra saber que não corro o risco de não poder te ver e te fiz jazer ao meu lado em todas essas manhãs. eu me sinto mais seguro assim.

domingo, 16 de dezembro de 2012

the helena beat

mesmo eu traço conclusões rápido demais e deixo pouco espaço para qualquer espécie de surpresa. mas há ocasiões em que alguém chega e tira tudo do lugar, sufocando planos e revirando tudo o que eu demorei meses pra ajeitar - e há ocasiões em que eu agradeço por isso ter acontecido. dessa vez não se trata de nenhum thrill, nenhuma espera e nenhuma palavra inacabada - são momentos que derretem deliciosamente entre os dedos justamente na maneira que tinham de ser, revirando esperanças e me forçando a enxergar que o mundo talvez não seja só o que eu pensava. há por aí um leque infinito de novos lugares, novas pessoas, de cenas que regressam e se reformulam. existem novas esperanças, novos sonhos, novos sentimentos, novas alternâncias, novas decepções, novas recompensas. virando a esquina existem novos universos, novas entranhas que a vida me reservou. meu mundo antigo se fechou e está selado à sete palmos embaixo da terra. e a cada segundo que passa eu me afasto e me aproximo mais, numa dança embalada por qualquer ritmo que eu julgar apropriado. são novos dias que surgem, e tudo que me diz respeito está finalmente em minhas mãos. 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

berserk

imergi do fundo de mim e mal posso esperar a hora de voltar. a vida não me parece tão rasa agora. não consigo mais dar atenção à coisas pouco complexas. e foi durante esses meros segundos em que meus olhos abriram que eu consegui enxergar tudo o que venho lutado para entender durante meses: todos os desencontros, as esperas, o final de ruas escuras, todas as mesas de bar - os universos atam-se uns aos outros orquestrados por um acaso lógico que, formado nos primórdios de todas as histórias manteve-se fiel à todo o seu princípio durante todo o seu desdobramento. as coisas só acabam porque a maneira nas quais elas começaram já predestinaram seu fim. talvez essa seja só mais uma conclusão que me ausente da culpa das coisas terem findado da maneira em que findaram. de qualquer maneira, ter me perdido em mim me deslumbrou e foi o suficiente pra me alimentar mais uma vez. espero conseguir chegar á novas profundezas sozinho, me perdendo em prédios enormes e indo cada vez mais pra dentro, fazendo a mente funcionar ao contrário, mesmo que por meros segundos, revertendo-a breve demais.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

TWO

talvez eu ainda tenha algo que vale a pena ser dito. talvez eu não esteja totalmente imerso em cadeiras vendo imagens passarem - sou mais do que uma alma que vaga pela varanda todos os dias ás exatas três da manhã. mesmo que seja irônico, posso afirmar com absoluta certeza que permear as mesmas cenas e as mesmas rotinas me completa mais do que quebrar um osso diferente a cada dia, como eu costumava fazer. gosto de ouvir palavras que soam vazias e de me afastar lentamente da região costeira de mim, retornando ao final do dia, com um sorriso de orelha a orelha. por favor, encham-me de coisas que eu não quero saber, pessoas que eu não faço questão de encontrar e desatem, amarrem e soltem de novo. nunca estive tão feliz por permanecer imóvel de frente a mudanças, desapontamentos, promessas curtas e esperas longas. e que as músicas não terminem e as despedidas durem mais. depois de abrir pétala por pétala, agora eu retrocedo, fechando atmosferas e pintando o fim de cada cena, voltando pra casa, junto ao anoitecer mais uma vez. estacionar dessa forma é quase desumano, mas acabo de descobrir que talvez eu seja também. 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

ONE

queria guardar esse momento pra agradecer  à quem ficou e agradecer aos que se retiraram por finalmente irem embora. agora eu regresso ao lugar de onde vim, com as mãos totalmente atadas e a certeza das missões completamente cumpridas. eu fiz o que me coube e o que pude da melhor maneira possível, e isso foi mais do que o suficiente. cumpri o papel a qual fui designado, mas talvez agora seja hora de voltar atrás e tornar-se mais de mim em eu mesmo. quero ter a sorte de poder voltar aos velhos hábitos, ás antigas preocupações, ás noites intemináveis e a falta de palavras. estou faminto de falta do que dizer, de falta de inúmeras necessidades. estou finalmente feliz por poder ter redescoberto aonde é a minha verdadeira casa, aonde é o meu verdadeiro lugar. obrigado, e pode deixar que a partir daqui o rumo quem assume sou eu.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

ya ya ye

por um dia inteiro eu consegui esquecer que existe um mundo lá fora e explodi tudo o que pude aqui dentro. dominei cômodos e deixei rastros de destruição de todas as preocupações por toda a casa, e redescobri que não preciso de muito pra ser feliz. já cumpri toda a minha parte do tratado e já preenchi todas as lacunas que me foram incumbidas de preencher. me desprendi da espera de qualquer resultado e resumi o aqui, o ali e o agora em perspectivas simplistas com um sorriso no rosto. fui impedido de ver além por emanar purple haze por onde tive que passar. eu sei que tudo vai dar certo. e se nada sair da maneira com que eu espero, não há nada, pelo menos por ora, que eu possa fazer.

sábado, 1 de dezembro de 2012

\\\\\

o desespero deu seu último grito antes que eu o afogasse em todas as minhas mágoas. transbordo minutos que compartilho com mãos ausentes, que cobram o que mal tem condições de pedir. tínhamos tantos sonhos. tínhamos eternos amanheceres que viriam azuis, e fins de tarde com o céu arroxeado. tudo esvaeceu num piscar de olhos. e apesar de terem me orientado o contrário, eu lutei por você. eu me agarrei aos seus beirais e insisti que valeria a pena. insisti que não era só isso. não me faça te obrigar a partir mais uma vez. só, só vai embora. você desfez minhas paredes e quebrou caminhos, em dinâmicas descaradamente desproporcionais às promessas de me agregar coisas novas. eu estava completamente errado a respeito de todo o resto. não é que foi só isso. foi muito menos. muito menos mais.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

gun has no trigger

se você tivesse salvado os momentos de forma correta, dizendo as palavras que tinham que ser ditas, eu não precisaria estar fingindo que nada me desagrada. pelo contrário, o amanhã já parece obscuro demais para nós - ameaça nossa existência rápido demais. e a gente morre. a gente morre com cada dia que passa, com cada ciclo que termina. a opção foi sua e eu simplesmente concordei. nenhuma luta vai mudar o curso da nossa história: o fim já está certo há muito tempo. agora que beiramos os desfechos, deixe-me olhar dentro dos seus olhos e silenciar antes de partir, te surpreendendo com a rapidez com que desapareço, justamente por ter entendido tudo antes de você começar a pensar a respeito. sempre foi assim. e dessa vez, dessa vez não vai ser diferente.

sábado, 24 de novembro de 2012

WILD

eram onze horas da noite quando minha mente desistiu. as pontadas contra a pele derrotaram as luzes que passavam contra os vidros, e tudo embaçou. eu sorri por ter descoberto o meu limite. sorri por ter descoberto o fim. sorri por ter descomplicado. tudo já me parece limpo demais. senti o bater do esqueleto contra a pele. a maioria do meu aparato surtiu efeito, e eu sobrevivi. me despeço do que eu era da melhor forma possível. é hora de recomeçar.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

TRUE BLUE

estou encharcando os dias de probabilidades. meus planos passaram a traduzir uma característica minha que já me apontaram há um tempo atrás: o calculismo. minha vida se transformou em tabelas, em números finos sobre uma centena de milhar. tudo gira em torno do sim ou não e dos seus desdobramentos: quando, para onde e como. ajo como se nada me atasse ao que tenho, mas estou incontestavelmente preso por uma série de fatores cruéis, difíceis de serem dobrados, adaptados, reformulados - são apenas revistos, com uma ponta de lamentação. pouso tímido na morada da incerteza. pelo amor de Deus, estão enfiando uma estaca no meu peito! será que alguém além de mim pode considerar fazer algo a respeito? tento dormir com o ressoar das vozes que impulsionam e suportam saltos grandes demais. por acaso, alguém chegou a dizer o contrário? 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

time

vou manter isto da melhor maneira possível, e talvez, da mais curta também. eu não tenho muito o que falar. encontro-me deslumbrado demais pelos segundos que antecedem as grandes tempestades, com folhas de árvores se despregando, galhos que dançam, meu cabelo virado pro lado contrário pelo vento. eu permaneço imóvel, nem um pouco acuado pelas nuvens que escurecem e torcem suas feições ao contrário, uma ao lado da outra. mas meu cigarro acaba rápido demais, como todo o resto. qualquer veia aberta a qualquer segundo jorrará lembranças, vencendo a batalha contra a pele. e eu espero que a estourem logo. eu cansei de ter que lembrar.

sábado, 17 de novembro de 2012

BIENVENUE I

as músicas insistem em se repetir nas sequências erradas. eu nem me conheço mais - me jogaram ás traças junto a costa do mar, em varandas com cheiros inócuos, em manhãs dispensáveis. estou cortando a pele pra sair de carcaças vazias. me pego dando boas-vindas para a última reviravolta de nossas histórias. o último marco. esta é a última parada. e é justamente aqui, onde nada existe mais. quero dormir ao dobrar a esquina e acordar junto a relva, onde qualquer frescor de qualquer nova realidade encha meus pulmões de vontade de viver. vocês já me apodreceram. e eu sei que, além disso, a vida pode me dar muito mais.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

pure

cada hora guardou e eventualmente revelou sua potência ao escancarar fatos que levei como sucessivos socos no estômago. talvez eu tenha me tornado redundante ao cair no esquecimento. o único calor que sinto provém do assentamento da dor dos golpes contra a pele, e por um momento, isso me pareceu suficiente. minhas mãos se desapegam devagar a partir do momento em que as coisas nas quais eu segurava com tanta força passam a queimar. queimam como carvões que chicoteiam impressões e avermelham a superfície. as máquinas já não precisam de mim para funcionar. minhas criações estão vagando por aí, bem sucedidas, sem nenhuma espécie de saudosismo, nostalgia, sem nenhuma gota de saudade - enquanto bebo litros de líquidos amargos sentado, reservado em cantos de salas, esperando o tiquetaquear do relógio me alertar que devo partir. a partir daí, as coisas passam a se degradar por vontade própria. são paisagens esquecidas, momentos que retrocedem, palavras que esvaecerem.  mofam como fotos antigas. mas a noite, a noite era minha. os caminhos que tracei eram indiscutivelmente meus, por mais que, por ora, eles pareçam não ter me levado a lugar algum. deixe-me carregar esta sina. ela eventualmente espalhará no vento como espalham-se as cinzas, levando consigo um pedaço meu, que terá se tornado cinza também. no final meus olhos relutarão ao olhar pra trás. mas tiros trocados não doem. cinza por cinza, tudo fica bem. tudo fica bem?

domingo, 4 de novembro de 2012

the cloud of unknowing

"on the cloud of unknowing
my world seems open


every satellite up here is watching

but I was here from the very start
trying to find a way to your heart

all the days are forgetting
they've gone out with the tide

lost at sea somewhere, waiting
like setting suns at the rodeo
trying to find someone you'll never know

oh, sinking love
on the cloud of unknowing

every satellite up here is wanting
waiting to see what the morning brings 
may bring sunshine on it's wings"

terça-feira, 30 de outubro de 2012

knowledge

jogaram sob os meus ombros cenas enfeitadas com cenários fora da minha perspectiva: corações que não se pertencem, bocas que dizem palavras que não precisam ser ditas, pessoas em lugares errados, círculos cruéis que fecham nos lugares mais fáceis. as pessoas assentam porque talvez seja o mais prudente a se fazer. ninguém arrisca muito - mudanças são tidas como algum tipo de maldição. eu, no entanto, contrasto ao fundo, assumindo diversas cores conforme as horas do dia. crio feridas porque é necessário cicatrizar. sigo assim, num eterno descompasso, acalentado por poder melhorar tardes de qualquer outra pessoa fora da minha linha de raciocínio. eu vomito convicções porque é o certo a se fazer. me valho de sorrisos que brotam da inconstância. cada covarde assume sua própria forma de continuar. e é justamente pela mania de revirar o meu baú de princípios que eu descubro coisas que eu somente não sabia. agora eu sei.

domingo, 28 de outubro de 2012

the whistle effect

estou parado há dias na mesma estação, esperando o mesmo trem, com os mesmos propósitos. estou de pé na chuva e no sol de frente ao meu prédio tomando coragem de entrar. de repente os finais passaram a me desinteressar - é no começo onde fica a tormenta, onde começa o thrill. minha vida passou a ser a morada de batidas que começam, de momentos que hesitam, de cenas que desfocam ao saírem de seu início. desdobramentos não me dizem mais respeito. quero ser apenas parte de aonde as coisas brotam. cansei do resto de histórias. cansei de todo o resto que existe a mais.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

is it freezing in your bed?

I've been thinking about those days I wanted to sleep and you'd wake me up just before you'd leave - and I'd fall back into a dream: walking in fresh city snow that you'd never seen - and I'd never leave your side.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

roses

as coisas derreteram entre meus dedos enquanto eu tentava dizer que não num momento torto. não quero ter que fazer ninguém escolher nada. abro a janela e deixo o vento frio trazer a tempestade que pintou o céu de azul no final da tarde em que eu decidir estancar. permaneço pintando cenas contra o vidro embaçado, mas me coagulei por um bem maior. deixei meus pulsos livres demais, mas você sequer hesitou - amarrou um contra o outro na primeira chance que teve. eu consenti, te deixando passar. as horas agora tem cheiro de queimado. já não quero dizer nada mais.

sábado, 20 de outubro de 2012

regardless

deixe anoitecer.
deixe que as coisas se corroam sozinhas, misturadas em mesas e copos frios, movimentados por mãos frias, e mentes frias.   construo histórias de corações que morrem em portarias, derrotados pelas horas. cancelei as últimas chamadas pra degustar sem culpa nenhuma das últimas nuvens do crepúsculo, longe demais. tudo está longe demais. apago as luzes uma a uma, e marcho em direção a porta. eu sei que vou hesitar sob o rodapé.
mas deixe-me anoitecer.
só mais uma vez.

domingo, 14 de outubro de 2012

THORN

partiram antes que eu terminasse o que eu comecei a falar. minha vida chegou ao ápice de seu propósito: as músicas que eu quero não tocam mais, minhas ligações não são atendidas. meus amigos estão correndo em carros por aí, pegando os ônibus errados, enfurnando-se em quartos, e após consertar suas máquinas eu fico aqui de mãos sujas, entregues, vazias, esperando a hora de ir embora. em todos os setores da minha vida as coisas findam sem nenhuma gratidão. tenho que me virar com o resto de sorte que me sobra. cansei de espiar da superfície. não espero que ninguém me resgate. mas por favor, me mande alguém que encha meus pulmões de água de uma vez por todas. alguém que abra meu supercílio e tinja a água de vermelho. essa é a única maneira de me fazer renascer em qualquer outro lugar. estou sozinho um pouco que demais. quebre meus ossos nos finais dessas palavras. levem tudo que eu tenho. eu me rendo. eu imploro. eu não estou pedindo mudanças. eu imploro pra que qualquer fim chegue disparando todas as balas contra o meu peito o mais rápido demais. vocês já usaram tudo o que precisaram. eu já apodreci e talvez seja hora de ir embora.  cansei de chorar. atenda o telefone pra que eu possa dizer adeus. 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

ρossibly мaybe

termine com as minhas terminações nervosas como você terminou com todo o resto, sem hesitar, sem repensar - apenas destruindo tudo ao ser completamente inflexível, enquanto eu remoía, inocentemente, as cinzas que restaram de nós. sequer sei onde você está, com quem está, como está. quebrei ao meio todas as suas formas de me punir ao me livrar da algema de suas inexplicáveis privações, segundos depois de ceder a última delas: aquela que você instituiu me obrigando a não me importar mais. nunca ninguém havia me dado alguma anestesia. mesmo com o cérebro lavado depois da absorção de respostas que retrucavam às perguntas que você quer entendia, me agarro nas últimas quinas da minha razão e só assim a mente me ocorre ao fato de que, a melhor maneira de me fazer esquecer é me rasgar ao cru, na pele. afaste-se de mim com as suas tentativas de me amenizar da dor. não me prive de algo que é meu só porque você não aguentou. deixe-me vomitar sob o meu par de tênis, banhando-os em coragem. não se preocupe, eu vou conseguir voltar pra casa, mesmo agonizando por a princípio estar a cada metro mais longe de você. não ao sei ao certo se o nome disso é orgulho, mas de qualquer forma, esse é o combustível que irriga as minhas veias e me prova de que eu fui dignamente, um homem leal. e no final, nada me importará mais do que saber disso.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

a Colt .45

a manhã desceu ao céu e assumiu todas as formas que eu me esqueci de prever. e nem que eu seja taxado de pessimista,  não posso deixar de assumir que as expectativas de que as coisas darão errado são muito mais fiéis a realidade.  nosso mundo está corrompido de overdoses químicas guardadas na gaveta, carros que partem rápido demais, vozes que nunca silenciam e a mente grita, e a gente grita, vidros quebram - no nosso mundo existem pupilas que dilatam por sete horas e mãos que fraquejam ao escrever. os covardes não nos deixam sequer um caco. nossos quartos cheiram a gasolina, e a única coisa que os mantêm fora de qualquer possibilidade de flamejar é que, sendo incontestavelmente diferentes do resto, criamos aparatos sem querer. premeiem-me com cicatrizes ao falhar dos fósforos. eu sou o antibiótico que seleciona tudo o que tarda a morrer em mim. são estes, e somente estes sentimentos que valem a pena de se manter. são estes sentimentos que me acordam pela manhã e anestesiam toda a indignidade de viver.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

kazualty

disparei palavras sem sentido contra o ar pra amenizar o impacto de explosões eminentes. ninguém nunca previu que seria assim. as coisas já se despregam facilmente - e eu já estou indo pra casa. larguei o que pude anos atrás, mas corpos cambaleantes insistiram em me seguir, e eu não relutei. muito pelo contrário, aplaudi a audácia e coragem daqueles que continuaram. entretanto, devemos assumir que a hora talvez tenha chegado pra todos nós. após todas essas décadas, permaneço morrendo e renascendo na varanda, ora um cais, ora uma trincheira. com um cigarro na mão, e um compasso disfarçado, todos nós damos as mãos e acenamos, nos despedindo das antigas nuvens, de estrelas empoeiradas, de uma lua cada vez mais amarela - como se apodrecessem pedaços, todas as noites. me despeço todas as noites como se fosse a última vez.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

go

tracei uma sequência de fatos assustadora, acompanhado por mãos geladas e vômitos na vala do trem, enquanto eu corria dentro da estação. eu só queria ir pra casa. tentei deixar que a tristeza se desprendesse de mim com o vento incessante do corredor. não deu. não consigo fugir disso mais.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

you speak softly

fujo das minhas recomendações e faço a curva devagar. ás vezes a vida volta - e nada se evita. pouco me degrado. minhas mãos estão sujas de sal. não posso ceder agora, mas nada do que eu faço será apenas por mim. o fluxo dos fatos é todo seu. cuide bem dele, e me presenteie com as consequências. quaisquer que sejam elas, tenho certeza de que as acolherei de braços abertos - porque é só o que me resta a fazer. 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

baby, i'm a sociopath

tive súbitos agitos, todos de uma vez, irradiando das faces que contrastam com a janela listrada de linhas cinzas. tudo é muito cinza, ou muito azul, ou passa rápido demais. as memórias invadiram meu ouvido esquerdo rápido demais, trazidas por uma gravata bem arrumada e um colarinho devidamente abotoado. havia muito a se dizer, mas eu silenciei e vivi o dia como se ele tivesse sido a cinco meses atrás, quando as coisas eram mais fáceis. quando não haviam hospitais, aeroportos, noites mal dormidas, corpos que cedem, ombros que se deslocam, estranhos que se levantam e fogem da fumaça. saí inteiro e torto de todas as histórias que findei. mas hoje não. hoje foi tudo fácil demais. foi somente hoje que eu consegui atuar incrivelmente bem, fingindo que meu amigo ainda estava aqui, que a noite passaria rápido demais, que eu jogaria um pouco de sal na ferida em bancos ás exatas duas e meia da tarde, que meu pai sairia ás cinco, que eu não enxergaria o que eu perdi, que minha maior preocupação não seria descobrir o valor de incógnitas elevadas ao cubo. eu não quero dormir hoje, mas eu sei que devo. sei que tudo cairá por terra assim que eu acordar. há muito o que se perder, mas devo agradecer pela repentina trégua. era exatamente o que eu precisava - me enganar bem. arrisco ao dizer que agora estou pronto, mas eu não sei - justamente da mesma maneira em que eu não sabia de nada a cinco meses atrás.

domingo, 30 de setembro de 2012

polar

meu antebraço queimou devagar, enquanto eu pensava em alguma coisa pra te dizer. concluí que você já sabe qualquer coisa que eu poderia ter dito. eu não disse. você consentiu. espero que você não renasça pela manhã, mostrando-se pouco grata ao trabalho que tive ao te enterrar na noite anterior. mas eu sei. mas você sabe. e ninguém além de nós sabe. vamos manter só mais este segredo. prosseguiremos como prosseguem minhas palavras - devagar e truncadas. meu amor, espero que essa seja a noite em que você enfie a estaca no meu peito, assassinando nossa rotina. mas o faça devagar. faça-o repetidamente. faça-o com a nossa interna intenção de nos levar a lugar algum. mas não conte a ninguém. não conte a ninguém além de nós.  

sábado, 29 de setembro de 2012

eras end above us

tive que começar a rasgar palavras o quanto antes, pois sequer me deram tempo de pensar. digam-me onde quebro o catalisador que joga palavras pouco verdadeiras pra fora de uma mente tão sincera. vou sendo atingido lentamente por um milhão de catástrofes. o mundo chega a tremer nas minhas mãos. desintegro devagar. eu sabia que eu não conseguiria, mas algo me impede de parar de tentar. descobri, após todos esses meses, que o meu maior medo é morrer entregue. desistir não faz jus a nada do que acreditei. me restam poucos cruzamentos com que posso contar: o sangue congela no meio do caminho. e afinal, essa talvez seja a única coisa que eu tenha a oferecer.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

i hear the birds on the summer breeze

a parte complicada do resultado da mistura de qualquer história com a minha está inquestionavelmente pautada no fato de que a minha vida regressa. o peito se enche de alegria acompanhada de novos olhares e oscila com a existência mútua de desesperos passados. eu sou um grande abrigo de desencontros. correm por todas as minhas veias as horas erradas, e atrofio meus músculos com palavras não ditas, que me apodrecem por si só. minha pele é roxeada por inconstâncias - e se meu nariz faz com que meus lábios sintam o gosto de ferrugem gosto de ferrugem, a culpa será somente minha. talvez por eu ter me assumido eu, partindo assim, de diretrizes perigosas demais - e nada muda isso.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

stuck

as luzes refletiam nas árvores do cemitério, fazia frio e kazu começou a entoar os primeiros versos de "love or prison". eu sabia que não deveria estar ali, pelo menos não tão cedo, não tão breve, mas, ainda que por alguma mágica, todas as minhas conclusões caíram por terra. estou remoendo os restos até agora. isso parece o suficiente pra sobreviver. e por ora, eu não arrisco em pedir nada mais.

sábado, 22 de setembro de 2012

(it's raining outside)

silenciei e parei de funcionar por um momento, encostado nas margens da porta. a ponta do meu pulmão esquerdo pediu socorro enquanto eu tossia. soltei o que segurava, deixando que as coisas encontrassem o chão. hesitei por um momento. cuspi na minha mão e dei boa noite ao que sobrou.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

blue velvet

em um mundo perfeito, você mudaria de ideia no último minuto, como quem ressurge a superfície, tentando resgatar um último suspiro. meu olhar me condenaria por eu saber que o rumo que as coisas tomariam desde o princípio. e eu sorria de lado, enquanto nos aproximávamos inocente e desesperadamente. meu colarinho não ficaria cheio de sangue, não dessa vez. sentiria o cheiro das suas lágrimas emergindo dos braços entrelaçados no meu ombro, pressionando seu vestido azul contra a minha pele e amarelando os hematomas que todos esses anos me forçaram a ter. essa seria a história que contaríamos aos nossos filhos crescidos, reunidos na sala de estar, quando a morte já estivesse batendo em nossa porta. você tentaria me ensinar por anos como ressurgir e escapar do fim, mas já estaríamos cansados demais. eu daria meu último suspiro ao seu lado, acalentado pela fronha desconfortável que eu teria insistido que você não comprasse. em um mundo perfeito, teríamos sido felizes - mas nossos caminhos parecem estar longe de se entrelaçar, e eu suspiro fundo e quieto, lembrando das coisas que nunca vão voltar.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

¢rimewavë

 deixa que meus pulsos cedam e lutem contra o vento - eles passaram meses sem espairecer. os olhares não voltam nas rotas certas. nada disso é de maneira alguma o que eu planejei. minha garganta cedeu antes da hora. os minutos caem como cinzas, cobrindo o lugar do que falta, do que foi, do que não é. três milhões de espectros tomaram conta da minha íris. me deixe escorregar contra a parede devagar, apenas da maneira como se deve ser.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

sunblock

meus olhos rolaram ao imaginar a cena, simplesmente porque eu não quero saber - ou porque eu não quero acreditar. não consigo acreditar que apelaram pro lado banal da vida, aquele que parece lindo, que quebra fácil, que não vale a pena de se aturar. não acredito que as pessoas que reduzem a velocidade com que levam sua vida e não percam nada no caminho. pelo contrário: perde-se muito, mas quem desacelera tem uma preguiça indescritível de voltar. eu espero que a inércia os leve bem. ando torto, por ruas escuras, no sentido oposto, com os cotovelos dobrados, só pra garantir que no final, cada grão de areia que meus pés tocarem, valerá a pena. nem que seja tarde demais, eu prefiro arriscar.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

xxo

as palavras desmancharam na cena escada abaixo. bastaram uma camiseta xadrez vermelha e um sorriso de canto pra mente procurar espairecer, acendendo um cigarro, um pé depois do outro, guardar o isqueiro, abaixar a mão, ir embora. enxergo o que ninguém quer ver. vou arrastando meu bom senso, indo embora de onde não pertenço mais. levanto a cabeça minutos depois, e mando alguém com audácia pra recolher as peças que deixei no caminho. assumo pra eu mesmo, sem nenhum medo ou escrúpulo: vou ter que destruir tudo, única e simplesmente porque eu não aguento mais.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

le heure

me diga apenas uma vez. deixo, somente agora, que as palavras partam de qualquer lugar. fáceis. sem escrúpulo algum. estou sem tempo pra esperar. apenas diga o que deve ser dito. minha mente tomará conta de todo o resto.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

kids

eu não pude lembrar de muita coisa - não porque eu esqueci, mas pela prudência que coexiste com o silêncio, contrastando com a zona e o barulho que fizemos, milênios atrás. minha memória me assegura que tudo aquilo existiu, e o sangue que ainda corre nas minhas veias é a cartada final, afirmando com a mais absoluta certeza de que as coisas passaram, mas nunca deixaram de ser partes fundamentais de mim.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

09:15

me jogaram restos a esquerda e a única coisa que eu pude fazer foi me acostumar. me acostumar com o resultado da tempestade de fatos, de horários, de partidas - dando os primeiros tiros no escuro, da mesma maneira que fiz anos atrás. a vida aperta e solta, e pouco sobra depois dessa rotina. estou encontrando novas maneiras de me sentir em casa, mantendo a mente próxima a lagos profundos e casas de madeira, quentes pelo sol, mudando de tom conforme o passar das nuvens. vou matando pouco a pouco o que precisa morrer, perdido em momentos de êxtase procurando novas pressões pra afogar e explodir a mente. procuro novas maneiras pra me sentir em casa. acho algumas que preciso, por ora, nos trovões que são teus braços. acho-as lutando em forma de espectros aterrorizantes, irradiando todas de você.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

make a wish

me poupei de qualquer lágrima derramada em qualquer táxi em qualquer volta pra casa. não estou aguentando nada até o final. a falta de chão no desfecho me impede de prosseguir, e fico estagnado, temendo resultados. meu sangue coagula e meus pulmões explodem em cinzas, justamente por eu não querer nada mais além de ficar aqui, pouco seguro, mas imutável - justamente por estar sozinho demais.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

while we seemed unchanged

joguei as cinzas que restaram contra seu ombro enquanto meus olhos enferrujavam e fazia frio demais. me aproximo da linha que demarcou as explosões das palavras passadas e sento, cruzo os as pernas, fumo um cigarro. não há mais nada a se fazer. penso que não quero cometer os mesmos erros outra vez. não quero te obrigar a nada. talvez eu morra antes de conseguir - meu coração queima contra o peito cedo demais. nem adiante nem mais atrás, permaneço aqui,  desintegrando, esperando você voltar.

domingo, 2 de setembro de 2012

blue

a fumaça sai pela janela mas polui o quarto escuro com pânico, tornando tudo denso, colidindo atmosferas no universo que é a ausência. explodem-se todas as conclusões para que a manhã chegue quieta, esquentando os braços pela janela. enfeito as horas com reticências até não restarem opções a não ser o regresso do que um dia existiu. pretendo não sair daqui tão cedo assim.  

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

b

engoli mundos e palavras pouco discretas que voltaram para onde vieram assim que tocaram no meu estômago - foram meses, anos. deixaram um gosto amargo na boca agora que os devolvi a seus respectivos lugares. estão apodrecendo nesse exato momento, e não por minha causa. se desintegram na mesma proporção em que são pouco confiáveis e por prudência e medo de tornarem-se futuramente obsoletos. desintegram-se por consideração para com todas as outras coisas sólidas, significativas e reais. minhas mãos estão sujas ainda. talvez demore um pouco mais do que eu havia planejado pra tirar todos os efeitos desse uso ininterrupto de mentiras da minha circulação. me sinto vazio agora, mas não leve isso pro lado negativo. eu estou justamente da maneira em que sempre devia ter estado. e por fim, conclua isso tudo como uma mera decorrência do meu récem-descoberto amor próprio, que, convenhamos, demorou um pouco pra chegar. 

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

desde sempre você soube que o meu ponto pacífico era amar coisas que sequer existiam, e assim, sem mais nem menos, você me prometeu coisas fáceis que nós dois sabíamos que jamais íamos conseguir, só pra me arrancar um sorriso. todas as vezes que voltei pra casa com as veias abertas valeram a pena. eu não trocaria nenhum minuto pra estar fazendo outra coisa que não fosse simplesmente estar ali, junto de você. eu estive onde eu simplesmente pertencia. onde eu sempre pertenci. e mesmo sem nada mais agora, eu ainda consigo me sentir em casa só de saber que meu pensamento recai sobre você, a noite, com um milhão de artifícios que se somam e se subtraem, girando em órbitas infinitas, que afastam, mas não desprendem nossos mundos nunca mais.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

lala

levei de duas gotas a noite um dia inteiro de nenhuma preocupação, os dedos buscavam qualquer distração e a mente sorria com qualquer olhar atravessado. aproveitei até a noite cair, e as mãos começarem a tremer: ainda felizes, mas frágeis demais - pedindo pelo que eu sei que eu não posso aguentar. explodi e estou recolhendo as peças, pra andar mais além e repetir o ciclo. e ninguém pode me julgar. não hoje, não com essas palavras, não dessas maneiras. se você tentou me estraçalhar, tarde demais - eu já dei conta do serviço a muito tempo atrás. isso faz de mim infinitamente inviolável. estou seguro aqui, posso me proporcionar o que os outros me proporcionariam em todos os níveis imagináveis, de boas e de más maneiras sem esforço algum. sento e vejo a manhã cair. não vejo a hora de não ter que sair daqui nunca mais. 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

r

perdi minhas ilhas e extinguiram-se todos os meus subterfúgios. estou de mãos vazias num oceano de absoluta ausência. meus pulmões mal suportam a minha respiração. timidamente, já entreguei todas as minhas resistências. meus olhos não conseguem ir muito além. sorrio fraco, apenas pra evitar com que eu me acostume com as minhas inacabáveis expressões de derrota. talvez eu possa chamar isso de um novo começo, mas sequer sei por onde começar. me contornei com essas palavras, e apertei o nó numa reação quase que impiedosa. deixo que tragam o resto. não tenho forças pra me preocupar mais.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

sometimes

o tempo escorrega entre os dedos da minha mão esquerda e leva com ele todo o resto. explodiram as últimas bombas a minha volta quando eu já tinha feito de todas as tempestades partes incontestáveis de mim. permaneço sozinho, quieto, sem ir nem vir. nada pareceu tão irreversível quanto os meus pesadelos insistiram em me dizer meses atrás. sei que é cedo, mas já digo adeus a tudo o que um dia foi meu. estou desertificando todos os meus continentes e não quero abrir os olhos quando a poeira assentar. não me faça acreditar em nada mais.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

a.

corri mais ou menos metade do meu caminho em um mero minuto. mergulhei no fundo de outro sonho assim que me acordaram, e fui flutuando, pintando todas as cenas de azul, e fazendo escorrer sangue das veias certas. talvez essa seja a peculiaridade prevista em quando se passa por sucessivas fases: existem milhões de cores no meio, mas algo te tinge de um único tom, contaminando todo o resto sem pedir permissão. e eu me deixo levar, até porque, prefiro assentar e esperar por outras brisas a sair procurando-as por aí.