terça-feira, 2 de outubro de 2012

baby, i'm a sociopath

tive súbitos agitos, todos de uma vez, irradiando das faces que contrastam com a janela listrada de linhas cinzas. tudo é muito cinza, ou muito azul, ou passa rápido demais. as memórias invadiram meu ouvido esquerdo rápido demais, trazidas por uma gravata bem arrumada e um colarinho devidamente abotoado. havia muito a se dizer, mas eu silenciei e vivi o dia como se ele tivesse sido a cinco meses atrás, quando as coisas eram mais fáceis. quando não haviam hospitais, aeroportos, noites mal dormidas, corpos que cedem, ombros que se deslocam, estranhos que se levantam e fogem da fumaça. saí inteiro e torto de todas as histórias que findei. mas hoje não. hoje foi tudo fácil demais. foi somente hoje que eu consegui atuar incrivelmente bem, fingindo que meu amigo ainda estava aqui, que a noite passaria rápido demais, que eu jogaria um pouco de sal na ferida em bancos ás exatas duas e meia da tarde, que meu pai sairia ás cinco, que eu não enxergaria o que eu perdi, que minha maior preocupação não seria descobrir o valor de incógnitas elevadas ao cubo. eu não quero dormir hoje, mas eu sei que devo. sei que tudo cairá por terra assim que eu acordar. há muito o que se perder, mas devo agradecer pela repentina trégua. era exatamente o que eu precisava - me enganar bem. arrisco ao dizer que agora estou pronto, mas eu não sei - justamente da mesma maneira em que eu não sabia de nada a cinco meses atrás.

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