terça-feira, 30 de outubro de 2012

knowledge

jogaram sob os meus ombros cenas enfeitadas com cenários fora da minha perspectiva: corações que não se pertencem, bocas que dizem palavras que não precisam ser ditas, pessoas em lugares errados, círculos cruéis que fecham nos lugares mais fáceis. as pessoas assentam porque talvez seja o mais prudente a se fazer. ninguém arrisca muito - mudanças são tidas como algum tipo de maldição. eu, no entanto, contrasto ao fundo, assumindo diversas cores conforme as horas do dia. crio feridas porque é necessário cicatrizar. sigo assim, num eterno descompasso, acalentado por poder melhorar tardes de qualquer outra pessoa fora da minha linha de raciocínio. eu vomito convicções porque é o certo a se fazer. me valho de sorrisos que brotam da inconstância. cada covarde assume sua própria forma de continuar. e é justamente pela mania de revirar o meu baú de princípios que eu descubro coisas que eu somente não sabia. agora eu sei.

domingo, 28 de outubro de 2012

the whistle effect

estou parado há dias na mesma estação, esperando o mesmo trem, com os mesmos propósitos. estou de pé na chuva e no sol de frente ao meu prédio tomando coragem de entrar. de repente os finais passaram a me desinteressar - é no começo onde fica a tormenta, onde começa o thrill. minha vida passou a ser a morada de batidas que começam, de momentos que hesitam, de cenas que desfocam ao saírem de seu início. desdobramentos não me dizem mais respeito. quero ser apenas parte de aonde as coisas brotam. cansei do resto de histórias. cansei de todo o resto que existe a mais.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

is it freezing in your bed?

I've been thinking about those days I wanted to sleep and you'd wake me up just before you'd leave - and I'd fall back into a dream: walking in fresh city snow that you'd never seen - and I'd never leave your side.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

roses

as coisas derreteram entre meus dedos enquanto eu tentava dizer que não num momento torto. não quero ter que fazer ninguém escolher nada. abro a janela e deixo o vento frio trazer a tempestade que pintou o céu de azul no final da tarde em que eu decidir estancar. permaneço pintando cenas contra o vidro embaçado, mas me coagulei por um bem maior. deixei meus pulsos livres demais, mas você sequer hesitou - amarrou um contra o outro na primeira chance que teve. eu consenti, te deixando passar. as horas agora tem cheiro de queimado. já não quero dizer nada mais.

sábado, 20 de outubro de 2012

regardless

deixe anoitecer.
deixe que as coisas se corroam sozinhas, misturadas em mesas e copos frios, movimentados por mãos frias, e mentes frias.   construo histórias de corações que morrem em portarias, derrotados pelas horas. cancelei as últimas chamadas pra degustar sem culpa nenhuma das últimas nuvens do crepúsculo, longe demais. tudo está longe demais. apago as luzes uma a uma, e marcho em direção a porta. eu sei que vou hesitar sob o rodapé.
mas deixe-me anoitecer.
só mais uma vez.

domingo, 14 de outubro de 2012

THORN

partiram antes que eu terminasse o que eu comecei a falar. minha vida chegou ao ápice de seu propósito: as músicas que eu quero não tocam mais, minhas ligações não são atendidas. meus amigos estão correndo em carros por aí, pegando os ônibus errados, enfurnando-se em quartos, e após consertar suas máquinas eu fico aqui de mãos sujas, entregues, vazias, esperando a hora de ir embora. em todos os setores da minha vida as coisas findam sem nenhuma gratidão. tenho que me virar com o resto de sorte que me sobra. cansei de espiar da superfície. não espero que ninguém me resgate. mas por favor, me mande alguém que encha meus pulmões de água de uma vez por todas. alguém que abra meu supercílio e tinja a água de vermelho. essa é a única maneira de me fazer renascer em qualquer outro lugar. estou sozinho um pouco que demais. quebre meus ossos nos finais dessas palavras. levem tudo que eu tenho. eu me rendo. eu imploro. eu não estou pedindo mudanças. eu imploro pra que qualquer fim chegue disparando todas as balas contra o meu peito o mais rápido demais. vocês já usaram tudo o que precisaram. eu já apodreci e talvez seja hora de ir embora.  cansei de chorar. atenda o telefone pra que eu possa dizer adeus. 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

ρossibly мaybe

termine com as minhas terminações nervosas como você terminou com todo o resto, sem hesitar, sem repensar - apenas destruindo tudo ao ser completamente inflexível, enquanto eu remoía, inocentemente, as cinzas que restaram de nós. sequer sei onde você está, com quem está, como está. quebrei ao meio todas as suas formas de me punir ao me livrar da algema de suas inexplicáveis privações, segundos depois de ceder a última delas: aquela que você instituiu me obrigando a não me importar mais. nunca ninguém havia me dado alguma anestesia. mesmo com o cérebro lavado depois da absorção de respostas que retrucavam às perguntas que você quer entendia, me agarro nas últimas quinas da minha razão e só assim a mente me ocorre ao fato de que, a melhor maneira de me fazer esquecer é me rasgar ao cru, na pele. afaste-se de mim com as suas tentativas de me amenizar da dor. não me prive de algo que é meu só porque você não aguentou. deixe-me vomitar sob o meu par de tênis, banhando-os em coragem. não se preocupe, eu vou conseguir voltar pra casa, mesmo agonizando por a princípio estar a cada metro mais longe de você. não ao sei ao certo se o nome disso é orgulho, mas de qualquer forma, esse é o combustível que irriga as minhas veias e me prova de que eu fui dignamente, um homem leal. e no final, nada me importará mais do que saber disso.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

a Colt .45

a manhã desceu ao céu e assumiu todas as formas que eu me esqueci de prever. e nem que eu seja taxado de pessimista,  não posso deixar de assumir que as expectativas de que as coisas darão errado são muito mais fiéis a realidade.  nosso mundo está corrompido de overdoses químicas guardadas na gaveta, carros que partem rápido demais, vozes que nunca silenciam e a mente grita, e a gente grita, vidros quebram - no nosso mundo existem pupilas que dilatam por sete horas e mãos que fraquejam ao escrever. os covardes não nos deixam sequer um caco. nossos quartos cheiram a gasolina, e a única coisa que os mantêm fora de qualquer possibilidade de flamejar é que, sendo incontestavelmente diferentes do resto, criamos aparatos sem querer. premeiem-me com cicatrizes ao falhar dos fósforos. eu sou o antibiótico que seleciona tudo o que tarda a morrer em mim. são estes, e somente estes sentimentos que valem a pena de se manter. são estes sentimentos que me acordam pela manhã e anestesiam toda a indignidade de viver.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

kazualty

disparei palavras sem sentido contra o ar pra amenizar o impacto de explosões eminentes. ninguém nunca previu que seria assim. as coisas já se despregam facilmente - e eu já estou indo pra casa. larguei o que pude anos atrás, mas corpos cambaleantes insistiram em me seguir, e eu não relutei. muito pelo contrário, aplaudi a audácia e coragem daqueles que continuaram. entretanto, devemos assumir que a hora talvez tenha chegado pra todos nós. após todas essas décadas, permaneço morrendo e renascendo na varanda, ora um cais, ora uma trincheira. com um cigarro na mão, e um compasso disfarçado, todos nós damos as mãos e acenamos, nos despedindo das antigas nuvens, de estrelas empoeiradas, de uma lua cada vez mais amarela - como se apodrecessem pedaços, todas as noites. me despeço todas as noites como se fosse a última vez.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

go

tracei uma sequência de fatos assustadora, acompanhado por mãos geladas e vômitos na vala do trem, enquanto eu corria dentro da estação. eu só queria ir pra casa. tentei deixar que a tristeza se desprendesse de mim com o vento incessante do corredor. não deu. não consigo fugir disso mais.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

you speak softly

fujo das minhas recomendações e faço a curva devagar. ás vezes a vida volta - e nada se evita. pouco me degrado. minhas mãos estão sujas de sal. não posso ceder agora, mas nada do que eu faço será apenas por mim. o fluxo dos fatos é todo seu. cuide bem dele, e me presenteie com as consequências. quaisquer que sejam elas, tenho certeza de que as acolherei de braços abertos - porque é só o que me resta a fazer. 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

baby, i'm a sociopath

tive súbitos agitos, todos de uma vez, irradiando das faces que contrastam com a janela listrada de linhas cinzas. tudo é muito cinza, ou muito azul, ou passa rápido demais. as memórias invadiram meu ouvido esquerdo rápido demais, trazidas por uma gravata bem arrumada e um colarinho devidamente abotoado. havia muito a se dizer, mas eu silenciei e vivi o dia como se ele tivesse sido a cinco meses atrás, quando as coisas eram mais fáceis. quando não haviam hospitais, aeroportos, noites mal dormidas, corpos que cedem, ombros que se deslocam, estranhos que se levantam e fogem da fumaça. saí inteiro e torto de todas as histórias que findei. mas hoje não. hoje foi tudo fácil demais. foi somente hoje que eu consegui atuar incrivelmente bem, fingindo que meu amigo ainda estava aqui, que a noite passaria rápido demais, que eu jogaria um pouco de sal na ferida em bancos ás exatas duas e meia da tarde, que meu pai sairia ás cinco, que eu não enxergaria o que eu perdi, que minha maior preocupação não seria descobrir o valor de incógnitas elevadas ao cubo. eu não quero dormir hoje, mas eu sei que devo. sei que tudo cairá por terra assim que eu acordar. há muito o que se perder, mas devo agradecer pela repentina trégua. era exatamente o que eu precisava - me enganar bem. arrisco ao dizer que agora estou pronto, mas eu não sei - justamente da mesma maneira em que eu não sabia de nada a cinco meses atrás.