sábado, 26 de janeiro de 2013

moon

a felicidade congelava minhas veias quando ela aparecia no meio da minha rotina de trabalho, me fazendo revirar o tempo e parar tudo o que estava fazendo, me atraindo como um ímã para a parte de fora do prédio. tínhamos um lugar favorito para passar o tempo, afastado dos bancos em que as pessoas se reuniam na volta do almoço. eram duas pequenas pilastras que nos serviam como assentos. sentávamos juntos, e ela, estranhamente, sempre ocupava o lado direito. eu poderia fumar um maço inteiro de cigarros enquanto discorríamos sobre qualquer coisa que estivesse acontecendo, mas dávamos voltas inevitáveis em torno do mesmo impasse: ela nunca sabia o que fazer com a sua vida e eu sabia exatamente o que deveria ser feito com a minha. essas perspectivas sempre foram muito particulares, e nunca se estendiam de mim para ela, ou dela para mim. porém, cada uma dessas realidades diferentes que nos circundavam acabavam se complementando, orquestradas pelas qualidades e defeitos de cada uma delas. enquanto a perspectiva dela a deixava aberta ás surpresas, a minha traçava linhas extremamente calculadas pelo fluxo do tempo. sempre fiquei maravilhado pelo modo com o que ela acumulava os acontecimentos em pilhas e os retorcia, fazendo-os ceder ás suas necessidades, mais cedo ou mais tarde. ela parecia igualmente impressionada pelo meu método indecifrável de voltar-me ao lado menos óbvio das coisas e ainda sim arquitetar a realidade de maneira plausível e racional. penso que fomos eternos antônimos mas ainda sim, infinitamente semelhantes. eclipsávamos juntos em danças perigosas e fizemos de tudo o que tinha de ser feito à nossa maneira, que não era nem certa nem errada, mas guardava todo seu esplendor no fato de ter sido apenas nossa. e apesar de qualquer rachadura que tenha se instalado entre nós com o tempo, sinto que ela ainda é uma parte inegável de mim, que parte num mundo que não é o meu para que quando nos reunirmos possamos sintetizar o que foi visto por cada um numa metáfora indiscutivelmente nossa, como sempre fizemos em todo esse tempo juntos, mesmo estando separados por incontáveis atmosferas de distância.

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