a felicidade congelava minhas veias quando ela aparecia no meio da minha rotina de trabalho, me fazendo revirar o tempo e parar tudo o que estava fazendo, me atraindo como um ímã para a parte de fora do prédio. tínhamos um lugar favorito para passar o tempo, afastado dos bancos em que as pessoas se reuniam na volta do almoço. eram duas pequenas pilastras que nos serviam como assentos. sentávamos juntos, e ela, estranhamente, sempre ocupava o lado direito. eu poderia fumar um maço inteiro de cigarros enquanto discorríamos sobre qualquer coisa que estivesse acontecendo, mas dávamos voltas inevitáveis em torno do mesmo impasse: ela nunca sabia o que fazer com a sua vida e eu sabia exatamente o que deveria ser feito com a minha. essas perspectivas sempre foram muito particulares, e nunca se estendiam de mim para ela, ou dela para mim. porém, cada uma dessas realidades diferentes que nos circundavam acabavam se complementando, orquestradas pelas qualidades e defeitos de cada uma delas. enquanto a perspectiva dela a deixava aberta ás surpresas, a minha traçava linhas extremamente calculadas pelo fluxo do tempo. sempre fiquei maravilhado pelo modo com o que ela acumulava os acontecimentos em pilhas e os retorcia, fazendo-os ceder ás suas necessidades, mais cedo ou mais tarde. ela parecia igualmente impressionada pelo meu método indecifrável de voltar-me ao lado menos óbvio das coisas e ainda sim arquitetar a realidade de maneira plausível e racional. penso que fomos eternos antônimos mas ainda sim, infinitamente semelhantes. eclipsávamos juntos em danças perigosas e fizemos de tudo o que tinha de ser feito à nossa maneira, que não era nem certa nem errada, mas guardava todo seu esplendor no fato de ter sido apenas nossa. e apesar de qualquer rachadura que tenha se instalado entre nós com o tempo, sinto que ela ainda é uma parte inegável de mim, que parte num mundo que não é o meu para que quando nos reunirmos possamos sintetizar o que foi visto por cada um numa metáfora indiscutivelmente nossa, como sempre fizemos em todo esse tempo juntos, mesmo estando separados por incontáveis atmosferas de distância.
sábado, 26 de janeiro de 2013
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário