quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

shocked

não havia nenhuma parede sequer que não estivesse preenchida. os porta-retratos guardavam exibições altruístas e eu senti o que restou do cheiro de doença pela casa toda. construíam um império enquanto eu cuidava da minha vida e eu sequer lembrava de como tudo me parecia errado antigamente. abracei o escuro como um antigo conhecido e fumei um cigarro, feliz por estar acompanhado da escada sombria que levava ao quintal. todas as luzes, as plantas, o som do transbordar da água num poço artificial e uma infinidade de pílulas que entupiam os armários da cozinha me levaram aos antigos lugares esquizofrênicos dentro de mim e eu mal podia esperar pra voltar a me encharcar com a minha realidade outra vez. tirei a seringa do meu braço rápido demais e, quase que sem pensar, dei o primeiro passo pra fora de mim, pra fora daquilo, pra fora de todas as impressões que pintaram aquele lugar com cores extremamente macabras há anos atrás. eu espero que dessa vez as coisas andem da maneira apropriada, mas mesmo depois de ter passado tanto tempo longe de tudo aquilo, eu sinto que eu preciso de mais. preciso de mais tempo pra me desintoxicar de toda a sujeira, de todas as mentiras, de todas as más recordações. deixei de lado a necessidade de drenar meu ódio e recomeçar, e talvez agora seja a hora de retomá-la. mas minha prudência me diz que não, e a partir de agora toda a cautela ainda é pouco. tenho medo de que a guerra que eu havia declarado como acabada tenha apenas me dado uma singela trégua. minhas esperanças olham para o lado contrário. mas de qualquer forma, eu ainda estou preparado pra lutar. 

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