perdi as chaves de casa. não lembro mais como entrar. não lembro mais da esquina larga demais, não lembro mais do prédio que nunca vi, não lembro da casa com o quintal enorme. lembro da calçada, lembro do cais, lembro do asilo. não lembro das palavras ou dos toques. me forcei a apagar de mim o quanto pude, pra machucar menos, pra conseguir fixar os olhos de uma vez por todas. não me deram chance. tudo que olhava parecia distante. dei o que restou pro vento, corri pelo sereno pra nunca mais voltarem. as lembranças batem na porta do meu quarto, mas quando eu abro, já foram embora. parecem embaçadas na memória, parecem mera imaginação. eu gritei, e ninguém ouviu. chamei o nome de todos, longe demais. as costas encostaram no piso enquanto me escondia embaixo do colchão, senti queimarem. senti a ponta dos dedos derreterem numa tentativa desesperada de me conter, de me forçar a olhar pra dentro e lembrar dos que fazem parte de mim. o elevador acabou parando cedo demais.
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