que a verdade seja dita: todos nós estamos caminhando sobre cacos. antigos relacionamentos, paixões não correspondidas, famílias que se entendem mal. sempre irá existir algo complexo ou doloroso demais que nos estanca e nos obriga não a resolvê-los, mas sim a os colocarmos nos cantos mais inóspitos da nossa memória na vaga esperança de esquecê-los. existe algo de perigoso neste reposicionamento das cenas, porque ninguém jamais pode garantir que qualquer faísca saia do controle, acendendo antigas chamas e iluminando tudo o que nos fez passar dias e semanas em claro até finalmente conseguirmos apagar as luzes para não os termos que encarar mais. tudo o que diz respeito às lembranças foge inteiramente do meu controle. talvez sejam as cores fortes que pintaram cada quadro, cada som que deu tom aos momentos, cada palavra no final de frases que eu jamais esperei ouvir. algo me impede de deletá-las por completo. o que me resta, então, é andar sob esta linha perigosa, e aprender a contemplar toda a beleza por trás da incerteza dos fluxos da mesma maneira em que eu costumava me perder na minha paixão por cada momento que passou.
domingo, 30 de março de 2014
segunda-feira, 24 de março de 2014
lioness
eu sou familiar com a ideia de tempo. a noção de progressão é a almofada em que me deito todas as noites. muito do que acontece pode durar um segundo ou semanas, e eu, apesar de conseguir fazer dessa incerteza uma espécie de conforto depois depois que tudo chega ao fim, tento ir do zero ao cem o mais rápido possível. tive me acostumar com a ideia de que algumas coisas simplesmente existem pra acabar – na vida, pouco se dura pra sempre. esse ciclo me fascina e me espanta com a mesma intensidade. eu não quero perder o que se passa com o que já me é indiscutivelmente eterno por estar totalmente focado olhando temporariamente para o outro lado. talvez eu seja viciado na improbabilidade, nos lugares que se alternam, nas festas que sobrepõe-se umas às outras. encho meus dias com maratonas. vou encaixando uma série de lugares à outros, uma série de cenas às outras. cumpro todo o meu percurso com copos que se revezam nas minhas mãos, cigarros que emendam brasas, músicas cada vez mais altas - tudo cresce e acaba como um arrepio que vem de dentro e se dissipa na flor da pele. quando tudo silencia o dia já está pra amanhecer, e eu mal posso segurar meus olhos abertos.
quinta-feira, 20 de março de 2014
sights
antes que eu pudesse me atentar às luzes dos postes que traçavam linhas no horizonte frio, eu já havia sido deixado pra trás de mãos vazias. ainda estou preso às dobras do prédio cor-de-rosa, às ruas estreitas, às mesas do café – tudo volta no exato momento em que eu fecho meus olhos e me forço a esquecer. eu perdi em todos os jogos em que me dispus a jogar. deixei tudo de lado e permiti que meu sangue corresse por você. e tudo o que fluiu, em algum momento tornou-se uma avalanche, descolorindo o que eu costumava acreditar. as coisas perderam a capacidade de mudar. o ponteiro do relógio gira exausto, e desta vez me olha com pena. não há mais nada que ele possa fazer. hoje eu descanso sob os meus próprios braços. talvez seja assim como as coisas devem ser.
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