terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

odds

sentamos num balcão de uma padaria totalmente diferente da qual eu já havia me acostumado. a noite caiu com um cheiro de café diferente, com assuntos que migravam inconstantes e com olhares estacionários que partiam de corações ligeiramente bêbados. eu nunca soube por onde começar nada, pois sempre quando me dei conta de que algo novo estava acontecendo, eu já me encontrava enraizado e imerso em uma realidade que me era totalmente diferente. talvez essa seja a pior das minhas qualidades, mas dessa vez, quem sabe, amanhã possa ser realmente diferente. talvez eu tenha me focado demais em discorrer sobre partes de mim que partem e tenha esquecido de notar as novas partes que chegam e pousam silenciosas na minha consciência, permeando as minhas decisões e alterando minhas rotas, me fazendo alternar e explorar lugares que pouco conheço. e apesar de estar pondo a perder grande parte da calmaria em que minha nova vida se baseia, eu sinto que talvez essa seja realmente a coisa certa a se fazer. dei boas-vindas com toda a minha gratidão ao meu novo amigo enquanto dividíamos um cigarro na volta pra casa. porque é isso que mais me envolve nos começos de novas histórias: ter a sensação de que se tem tudo a perder e mesmo assim, continuar indo em frente, sem jamais olhar pra trás.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

sixteen

eu me segurei às minhas últimas memórias e as deixei partir no mesmo segundo em que percebi que minhas mãos estavam banhadas em sangue. eu sempre soube que depender de qualquer pessoa que me fosse tão externa era uma prática extremamente perigosa, mas nunca consegui deixá-la totalmente de lado por nunca ter colhido frutos ruins dessas relações. sempre saí com alguma bagagem que equivalesse a perda. mas dessa vez as coisas saíram totalmente do controle. parte de mim partiu meses atrás e, mesmo depois de todo esse tempo eu ainda não consegui recuperá-la. talvez eu nem chegue a ter o mínimo dela de volta. eu estou aterrorizado por ter concluído de forma tão recorrente nesses últimos anos que alguns dos laços que cultivei hoje são tão inquebráveis que, mesmo que o cenário seja tão diferente, eu simplesmente não consigo evitar a sensação de que mais cedo ou mais tarde eu venha a ficar sozinho de novo por não ter conseguido praticar o desapego. sinto que antigos complexos emergem dos cantos mais sombrios dos medos que consegui enterrar em mim anos atrás, só que dessa vez, o contra-ataque dos meus pesadelos se aproveita do total descontrole dessas situações pra me derrubar. e agora não há mais nada que eu possa fazer a respeito. tudo me parece fora do meu alcance pela primeira vez. reviro os olhos antes de me afundar na minha cama mais uma vez. eu não sei até quando eu vou conseguir flutuar nesse oceano de incertezas, mas algo me diz que o fundo desses mares não me parece mais estar longe demais.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

me, I'm a taker

de alguma forma estranha, eu me senti menos atingido ali. eu já não pertencia às últimas cadeiras do balcão de uma padaria quente, mas algo me disse que era ali onde eu devia estar, nem que fosse pela última vez. eu me despedi da rua que subia até a nossa esquina e dos muros amarelos. senti como se eu houvesse fechado um ciclo, e ter feito isso não me parecia mais tão aterrorizante. deixei aberto os caminhos para que eu pudesse caminhar para longe de tudo daquilo que era nosso, e surpreendentemente, ele me apareceu de volta pra me acompanhar nessa jornada. seus olhos desviaram das pessoas que passavam e o cumprimentavam na rua, e mesmo olhando pra longe, eu sabia que ele me conhecia. ele conhecia cada centímetro da minha conturbada existência e lutava com as palavras pra poder voltar a um assunto qualquer que discutíamos. podem me chamar de maquiavélico, mas era justamente isso que eu esperava que acontecesse quando rasguei as mangas da minha camiseta nova e fui o encontrar. o futuro pode ser incerto, mas sobre esses últimos dias: eu já sabia que eles iam ser assim.